Foi um final de semana estranho, com uma espécie de névoa que não se dissipava totalmente ao longo do dia. Não era a típica "nuvem baixa, sol que racha" conhecida dos gaúchos.
Era efeito de um fenômeno meteorológico que trouxe para o extremo sul do Brasil fumaça das queimadas no extremo norte, na Amazônia.
Mas o que está acontecendo na Amazônia para justificar tamanho impacto? Conforme o sistema BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), houve 20.221 focos registrados do início do ano até 24 de julho. O número é o maior para o período desde 2005.
Embora não haja impactos graves para a saúde - a fumaça chega aqui a uma grande altitude -, há um enorme problema envolvido, que é a dificuldade de frear a destruição da floresta.
O período de julho a outubro é conhecido como verão amazônico, caracterizado pela redução da chuva - em consequência, da umidade relativa do ar - e pelo aumento da temperatura, o que eleva o risco de espalhar incêndios florestais.
No acumulado de 12 meses até julho, havia ocorrido uma queda de 45,7% no desmatamento da Amazônia. Mas no mês passado, foram destruídos 666 km² de floresta ante os 499,91 km² de julho do ano passado, um aumento de 33,2% na comparação mensal, conforme o sistema Deter, também do Inpe.
É bom lembrar que o governo federal se comprometeu em alcançar desmatamento zero até 2033. Estávamos nos aproximando dessa meta, mas voltamos a nos afastar. Uma das dificuldades, como alertou o climatologista Carlos Nobre em entrevista à coluna, é o fato de que cerca de 90% das atividades na Amazônia de 2019 a 2022 eram ilegais.
Para os céticos sobre essa estimativa, é bom lembrar que o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, apresentado no mês passado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontou Santana, no Amapá, como a cidade mais violenta do Brasil.
Não temos capacidade para alterar o comportamento do clima no curto prazo - no longo, a humanidade já produziu uma mudança dramática. Como poucas vezes, os últimos dias deixaram claro que a Amazônia não é importante apenas para quem vive no norte do país.
Então, é preciso redobrar a vigilância e os esforços para evitar queimadas, não só para evitar respirar a fumaça dos incêndios, mas porque a sobrevivência da humanidade depende de evitar o temido ponto de não retorno da destruição da floresta.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo