Há os que só apontam problemas e os que se esforçam na busca de soluções. Roberto Lucchese, diretor-presidente da construtora Lyall, não se conformou em ver metade da ponte sobre o Rio Forqueta, entre Arroio do Meio e Lajeado, levada pelas águas. E não quis apenas pedir ajuda aos governos. Pediu, aliás, mas também colocou a sua parte (a nossa, a de todos). Com outros empresários, prefeituras e a comunidade, ergueu em tempo recorde de 15 dias a outra metade. O que era a Ponte de Ferro virou Resistência (a parte antiga) e Reconstrução (a parte nova).
Por que você se mobilizou para ajudar a reconstruir a ponte?
Temos uma ligação muito forte com a comunidade. O jet ski dos bombeiros é da empresa, doamos alguns carros para polícia. Estávamos tentando retirar a ponte que caiu no Rio Forqueta. Só que o repique da enchente, por volta de 20 de maio, destruiu a ponte completamente. Passavam lá cerca de 28 mil carros por dia. Quando caiu, 300 mil pessoas ficaram isoladas. Uma viagem que levava cinco minutos até Lajeado passou a consumir até três horas. Uma empresa não pode ter tanto faturamento, tanto sucesso, e não conseguir resolver um problema da cidade. Não tem lógica ficar parado no escritório. Lembro que, no dia 24 de maio, cheguei na Lyall e falei que tínhamos capacidade técnica e financeira para reconstruir a ponte em menos de 30 dias. O pessoal se assustou, mas, no dia 25, tivemos a liberação das prefeituras. Muitas pessoas e empresas doaram mão de obra, tempo e materiais. Foram 24 horas por dia trabalhando. Deslocamos praticamente 100% do foco e da energia da Lyall. Um relato do pessoal do Centro Regional de Oncologia de Lajeado injetou ainda mais urgência. Havia 300 pacientes com dificuldade de deslocamento para seguir o tratamento de câncer. Não é a ponte mais bonita, não é a melhor ponte, mas certamente é uma ponte feita de forma mais rápida e para pessoas.
Veja como ficou a ponte Resistência e Reconstrução
Como foi ver a ponte voltar a funcionar?
Começamos a construção no dia 25 de maio. Foram quatro dias comprando matéria-prima e nove produzindo. Finalizamos no domingo (dia 9) às 17h12. Fiquei muito emocionado. O primeiro carro a passar foi uma ambulância. Era para ser uma passagem simbólica, mas acabou não sendo porque já tinha paciente para buscar em Estrela. Não foi só simbolismo, foi uma questão de vida, de saúde.
Como funciona a ponte hoje? É provisória?
Não. A nossa parte reconstruída teria capacidade, inclusive, para suportar caminhões. Mas, como o pilar central é o original, com praticamente cem anos, não resiste a esse tipo de carga. Então, a passagem é limitada a vans, ambulâncias, no máximo. Na segunda-feira (dia 8), as prefeituras de Lajeado e Arroio do Meio fizeram ajustes de segurança para liberar o fluxo. Só não passam caminhões. Nesse momento, a ponte é metade de 1939 e metade de 2024. Por isso, chamam de Ponte da Resistência e Reconstrução. Na parte antiga, fizemos uma inspeção para garantir que não sofreu danos com a enchente.
Quanto foi investido na construção?
As prefeituras de Lajeado e Arroio do Meio devem ter gastado, pensando em máquinas e material, na faixa de R$ 500 mil. Já da parte privada, tanto quanto gastamos em dinheiro quanto o que recebemos em doações, foram R$ 1,7 milhão. Nesse valor, entra o que a Lyall já desembolsou, que foram cerca de R$ 800 mil. E ainda vamos desembolsar R$ 400 mil para pagar contas ainda não chegaram. Em situação normal, com todos colocando as suas margens, essa obra custaria R$ 3 milhões e levaria, no mínimo, cem dias para ficar pronta.
*Colaborou João Pedro Cecchini