Quando a primeira ambulância passou sobre a Ponte de Ferro, entre Lajeado e Arroio do Meio, na tarde de domingo (9), o Vale do Taquari voltou a ser interligado por via rodoviária depois que a enchente no início de maio derrubou as duas pontes sobre o Rio Forqueta. O fluxo para todos os veículos foi normalizado no fim da tarde de segunda-feira (10).
Desde a enchente, o deslocamento entre os dois municípios, antes vizinhos, demandava desvios e uma peregrinação que passava por Estrela, Colinas e uma trecho de estrada de chão antes de passar por dentro de Roca Sales, um percurso que já passou de seis horas, por concentrar todo movimento do vale. A outra alternativa era cruzar a pé, sobre uma passadeira instalada pelo Exército.
— Não tinha como atender o pessoal de cá (Arroio do Meio), ainda mais que a RS-129 por Roca tá bem trancada, até dá pra passar, mas tá bem trancado — disse o prestador de serviço Guilherme Schumann, que relatou uma demora de até sete horas para chegar em Arroio do Meio pelo caminho alternativo.
A estrutura foi montada e instalada em 15 dias a partir da união de esforços entre empresários e comunidade para ligar novamente os municípios. Segundo o diretor da Lyall Construtora, Roberto Lucchese, o projeto foi montado em 48 horas, com um cronograma inicial que previa a conclusão em 30 dias.
— A gente conseguiu que o pessoal do transporte entendesse que não estavam transportando ferro. De certa forma, era uma carga humanitária. Isso a gente estendeu pra todo mundo. Por exemplo, o pessoal da solda. Não é normal soldar por 24 horas, nessa ponte, depois que o material chegou, em cinco, seis dias ela estava soldada. Os turnos eram das 10h às 22h e das 22h às 10h — disse Lucchese.
Em condições normais, segundo Lucchese, a construção poderia demorar de cem a 140 dias, respeitando os prazos comuns de transporte e horas diárias de trabalho.
— Uma pessoa muito próxima da gente, que trabalha com tratamento de câncer, explicou: “Tem mais de cem pessoas de Arroio do Meio que pararam o tratamento de câncer. Elas não podem passar pela passadeira". Pra todo mundo, a gente colocava isso: se a tua mãe tivesse com câncer em Arroio do Meio, o que tu faria por ela? — contou o diretor, sobre a mobilização dos operários.
Resistência e reconstrução
Inaugurada em 1939, após 10 anos do início da construção, a Ponte de Ferro consiste em duas estruturas apoiadas sobre um pilar central. Na enxurrada, apenas a que fica para o lado de Lajeado foi levada. Foi essa parte que precisou ser reconstruída em 15 dias e que ficou conhecida como a “Ponte da Reconstrução”, como expõe um faixa estendida.
A gente conseguiu que o pessoal do transporte entendesse que não estavam transportando ferro. De certa forma, era uma carga humanitária. Isso a gente estendeu pra todo mundo. Por exemplo, o pessoal da solda. Não é normal soldar por 24 horas, nessa ponte, depois que o material chegou, em cinco, seis dias ela estava soldada.
ROBERTO LUCCHESE
Diretor da Lyall Construtora, responsável pela obra
Entre os moradores, o lado que suportou a força da chuva está sendo conhecido como a “Ponte da Resistência”.
Embora inicialmente se planejasse que essa estrutura fosse provisória até uma nova construção, a ponte doada pela Lyall será definitiva.
— Construir ela para durar, se precisar, mais 200 anos — disse Lucchese.
Assim como a anterior, a ponte mantém a limitação de dimensão e peso, que são determinadas por espécie de “goleiras” instaladas dos dois lados.
O fluxo é alternado, com liberação de apenas um sentido por vez. Duas sinaleiras indicam quando é possível a travessia em cada lado, o que por vezes gera fila. O tempo de liberação, em geral, é de cinco minutos para cada lado, mas o período pode ser ampliado em alguns dos sentidos caso o movimento aumente.