Com o dólar quebrando três barreiras psicológicas só neste mês - de R$ 5,30, R$ 5,40 e R$ 5,50 - e ameaçando a próxima nesta sexta-feira (28), o economista André Perfeito diagnostica:
— Não há outro termo: o real está sofrendo um ataque especulativo.
Perfeito afirma ter hesitado antes de usar essa definição, mas se convenceu nesta sexta-feira, quando a moeda americana sobe cerca de 1% ante o real, enquanto outras moedas emergentes estão estáveis:
— É preciso considerar algo próprio da moeda nacional que não seja replicável às demais.
Embora tenha ultrapassado as fronteiras do mercado financeiro - hoje, até políticos se dizem vítimas de "ataque especulativo", o termo é bem específico: define o momento em que investidores em determinada moeda que está vulnerável ou fragilizada abandonam massivamente suas posições.
Perfeito apresenta três argumentos para dizer que a perda de valor do real não tem fundamento econômico:
- O Banco Central parou de cortar a taxa Selic, deixando o chamado "diferencial de juro" (ante os EUA) mais favorável ao Brasil (com o segundo maior juro real do mundo).
- A balança comercial continua positiva, com forte entrada de dólares no país (a coluna acrescenta que também há ingresso significativo de investimento externo direto).
- Os dados econômicos não estão ruins, como mostra a queda na taxa de desemprego divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE.
Segundo o economista, a única explicação é de ataque especulativo por um motivo: o mercado teria se posicionou contra o real depois de inúmeras mensagens truncadas:
— Isso cria uma situação em que, mesmo os agentes não achem que seja o fim do mundo, virem a mão para ganhar com a queda do real.
Um dado pode sustentar, com ressalvas, o diagnóstico de Perfeito: na semana passada, as posições contra o real alcançaram novo recorde, de US$ 79 bilhões, conforme dados da B3, a bolsa de valores brasileira.
Esse valor ajuda a avaliar a intensidade da aposta contra a moeda nacional, embora os dados incluam, além de posições especulativas, investimentos de offshores que podem ser feitos por investidores locais e operações de hedge (proteção contra variação cambial). Para comparar, na última semana de junho de 2023, essa posição somava metade da quantia atual, cerca de US$ 40 bilhões.
Desarmar esse tipo de situação, segundo Perfeito, exige, sim, intervenções no mercado de câmbio - que Campos Neto diz não ter intenção de fazer - e uma comunicação "mais serena" por parte do BC, indicando que a subida é exagerada.
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio, mas não duradouro.
Conflitos e eleições pelo mundo: conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hammas elevam incertezas, assim como as eleições para o Parlamento Europeu, que geraram antecipação de pleitos em vários países, inclusive na França, "sócio-fundador" da União Europeia, com risco potencial para a existência do bloco.