O dólar até teve um mínimo recuo (0,2%) e fechou em R$ 5,508 nesta quinta-feira (27), depois de passar boa parte do dia em alta igualmente ínfima. O mercado de câmbio reagiu com tranquilidade a declarações do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Ao apresentar pessoalmente o Relatório Trimestral de Inflação, Campos Neto acabou com a expectativa de fazer injeção de dólares para acalmar o mercado:
— Como a gente trata o câmbio como flutuante, entende que as atuações têm de ser causadas por alguma disfuncionalidade nesse mercado — afirmou.
Segundo Campos, a desvalorização do real "está em linha com algumas outras variáveis que também simbolizam o preço de risco Brasil".
O presidente do BC reforçou que há forte componente externo na reação do mercado financeiro no Brasil. Disse que o aumento global de dívida vai "extrair liquidez" (provocar saída de dólares) de vários mercados. E deu uma afagada no governo Lula ao dizer que "por trás o que tem acontecido também é um ajuste de posições no mundo emergente."
É um fato, mas ser Campos Neto quem diga isso significa. Acrescentou que, depois da pandemia, tanto países desenvolvidos quanto os emergentes gastaram muito. Agora, "vamos passar por um período de ajuste para fazer com que o fiscal volte para a normalidade".
Outro componente de tranquilização veio de uma manifestação de Haddad. Em evento com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, voltou a afirmar que o governo precisa perseguir o equilíbrio fiscal tanto pelo aumento da receita quanto pelo lado da despesa. E assegurou que Lula "nunca desautorizou o ministro da Fazenda na busca do equilíbrio das contas".
No dia anterior, uma frase de Lula havia sido interpretada como um questionamento a essa dupla abordagem e levou o dólar ao patamar de R$ 5,50, onde permaneceu.
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio, mas não duradouro.
Conflitos e eleições pelo mundo: conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hammas elevam incertezas, assim como as eleições para o Parlamento Europeu, que geraram antecipação de pleitos em vários países, inclusive na França, "sócio-fundador" da União Europeia, com risco potencial para a existência do bloco.