Depois que a estatal de petróleo de Abu Dhabi, a Adnoc, avisou ter desistido da compra da Braskem, na última segunda-feira (6), a empresa apresentou nesta quinta-feira (9) prejuízo líquido de R$ 1,35 bilhão no primeiro trimestre. No mesmo período de 2023, ainda havia conseguido lucro, ainda que pequeno para o tamanho da empresa, de R$ 184 milhões.
Conforme o diretor financeiro da companhia, Pedro Freitas, há outro candidato à compra fazendo verificações (due dilligence) na empresa para avaliar a realização de uma oferta. Disse não ter informações sobre a identidade do novo candidato, mas descartou que seja a Petrobras, que já é sócia relevante da dona da maior parte do polo petroquímico de Triunfo e também faz avaliação para apoiar sua decisão caso a venda evolua.
No mercado, especula-se que a outra candidata seja a Saudi Basic Industries Corp (Sabic), uma das maiores no segmento, subsidiária da Saudi Aramco, por sua vez a estatal e petróleo da Arábia Saudita, que tem a segunda maior receita de todas as companhias do mundo.
Segundo Freitas, as atividades no polo de Triunfo estão paradas por "questões logísticas e de acesso a água", porque não houve dano às instalações industriais. Estão inundados os sistemas de captação de água e de ratamento de efluentes, ambos essenciais para a operação. Além disso, o Terminal Fluvial Santa Clara,preventivamente fechado pela Capitania dos Portos, também foi invadido pela água.
— Só será possível saber como tudo isso está e avaliar perdas na hora que a água baixar, o que hoje ninguém tem certeza de quando vai ocorrer — disse Freitas.
Parte da produção das resinas básicas, como polietileno e polipropileno, será compensada pelo aumento em outros Estados - hoje, a Braskem utiliza em média apenas 50% da sua capacidade. No caso do polietileno verde - material produzido com etanol de cana-de-açúcar pioneiro na descarbonização do setor -, que só é feito em Triunfo, há estoque no Exterior, já que a maior parte é destinada à exportação. Freitas disse não saber o volume exato do estoque, mas a média na empresa é de dois a três meses de consumo.
Ajuda no desastre climático
Mesmo com as plantas paradas no Estado, Freitar relatou que a Braskem está distribuindo "milhares" de cestas básicas, kits de higiene e colchões para a população de Triunfo, Montenegro e Nova Santa Rita, as mais próximas de sua operação. Outra iniciativa é entregar resina plástica para que empresas parceiras produzam material como baldes para limpeza e embalagens para doações. Em ações de voluntariado no mundo todo - a companhia tem unidades em cerca de 70 países nas Américas, na Europa e na Ásia -, recolhe doações para os atingidos pelo desastre climático. Os recursos financeiros são destinados à Central Única das Favelas (Cufa) e ao governo do Estado.
O imbróglio da Braskem
A Braskem está à venda desde 2018. A companhia é controlada pela Novonor (ex-Odebrecht), que entrou em crise depois da operação Lava-Jato. A empresa privada tem 38,3% do capital total da Braskem e 50,1% das ações ordinárias, enquanto a Petrobras tem 36,1% do e 47% das ordinárias. O primeiro ensaio de venda, em 2019, foi uma tentativa de evitar a recuperação judicial da então Odebrecht. Mas fracassou, por falta de transparência na avaliação dos passivos provocado por danos relacionados à mineração de sal-gema em Maceió (AL). Não por acaso, o pedido de RJ veio 15 dias depois.
Desde então, a Braskem fez sucessivas reavaliações sobre suas despesas com indenizações a moradores, à prefeitura da capital alagoana e ao governo do Estado. Atualmente, está por volta de R$ 15,5 bilhões. Até o ano passado, ainda havia interesse da Unipar, confirmado pela coluna, e especulações sobre eventual intenção de fazer oferta por parte da J&F, dona da JBS.