Pela reação dos preços - do petróleo lá fora ao dólar aqui dentro -, a temida tréplica do ataque de Israel ao Irã contribuiu para a redução da incerteza.
A cotação do barril de óleo do tipo brent chegou subir 4% no início desta sexta-feira (19), mas acabou fechando em estabilidade em relação à véspera, com alta quase insivível, de 0,21%, para US$ 87,29. O dólar no Brasil caiu 0,96%, para R$ 5,199. Até a bolsa teve alta visível, de 0,8%.
Dado o temor com o tamanho da resposta israelense, a retaliação moderada representou um alívio. Aparentemente, deu certo o esforço diplomático internacional. Nos últimos dias antes do ataque de Israel, houve romaria à Tel Aviv, capital do país.
Um deles foi David Cameron, atual chanceler do Reino Unido, que chegou a dizer antes de ir embora que, de fato, Israel havia "decidido agir". E acrescentou:
— Esperamos que o façam de uma forma que contribua o mínimo possível para a escalada.
Mas isso significa que a incerteza global diminuiu e pode estar aberto o caminho para que o Banco Central mantenha o cenário básico que garantia corte de juro de 0,5 ponto percentual no dia 8 de maio? Infelizmente, não.
Os atores de um conflito que estavam prontos para mergulhar o mundo no abismo recuaram alguns passos, mas seguem à beira do abismo. O equilíbrio entre ataques e retaliações "limitados" é frágil e pode se romper. Até porque mudou a "rule of engagement", ou seja, os códigos em que o conflito se desdobrava até agora.
Do ponto de vista interno, segue a incerteza sobre a política fiscal do governo Lula, agora ameaçada também pelas pautas-bomba do Congresso. Mas até um movimento do Executivo para tentar recompor as relações com o Legislativo ocorreu nesta sexta-feira (19). Depois de tanto estresse, um diagnóstico bem simples é possível: o mundo sextou melhor do que segundou, depois do ataque do Irã e dias à espera da reação de Israel.
Uma escalada arriscada
- No dia 7 de outubro, um ataque terrorista do Hamas a Israel deixou centenas de mortos e mais de uma centena de reféns (o número exato não é conhecido até hoje).
- A reação de Israel foi extrema, invadindo e bombardeando Gaza, território governado pelo Hamas. A ação para impedir a entrada de ajuda humanitária e à população civil do território começava a provocar uma inflexão na posição dos países aliados a Israel.
- Um grupo de rebeldes do Iêmen, o Houthi, passou a atacar navios no Mar Vermelho. Os primeiros alvos tinham relação direta com Israel, depois passaram a mirar também qualquer bandeira considerada aliada. Até uma carga brasileira foi atacada. O Irã financia o Houthi, assim como Hamas e Hezbollah, outro grupo rebelde do Líbano.
- Um ataque de Israel à embaixada do Irã em Damasco, capital da Síria, no início do mês, deixou oito mortos, entre os quais integrantes da Guarda Revolucionária do Irã.
- O Irã avisou que iria retaliar, o que fez na noite de sábado no Brasil. Disparou mísseis e enviou drones, a grande maioria interceptada pelo Domo de Ferro, escudo de proteção de Israel. Há especulações de que um ataque tão simbólico, mas também tão contido, possa ter sido planejado em conexões secretas entre os EUA e o Irã.
- Agora, Israel re-re-retaliou, com um ataque a alvos militares considerado "limitado". Caso tudo fique por aqui, terá sido o melhor resultado esperável diante das circunstâncias.