A escalada de ataques a navios no Mar Vermelho, que havia começado ainda no final de 2023, levou a represálias de Estados Unidos e Reino Unido e já começa a apertar o nó logístico.
Os conflitos com o grupo Houthi, que controla boa parte do território do Iêmen e tem apoio do Irã se combinaram com uma seca no Panamá e já impactam as estatísticas de transporte marítimo.
Conforme dados da seguradora holandesa ING, na primeira semana de janeiro, quando os conflitos se tornaram mais frequentes e graves, o número de navios que passaram pelo Mar Vermelho caiu 45% em relação a igual período de 2023. A estimativa é de que a redução de tráfego, combinada ao alto percentual de embarcações que tiveram de mudar seu curso no início deste ano represente uma redução entre 20% e 25% da capacidade global de transporte por contêineres.
O dado é confirmado pela queda de 40% na receita do Canal de Suez, que liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo, entre os dias 1º e 11 de janeiro, ante igual período de 2023.
Já em dezembro, o Índice de Crescimento de Logística (LGI na sigla em inglês) teve queda de 53,3 pontos para 52,4. Isso já embute atrasos, aumento de custo do frete e disrupção do sistema global de suprimento. Esse indicador é publicado pelo Instituto de Logística de Cingapura e baseado em dados compilados por pesquisa com profissionais e gestores do setor em cerca de mil companhias.
A travessia do Mar Vermelho, com passagem pelo Canal de Suez, é a alternativa criada para evitar o famigerado Cabo das Tormentas, no sul da África - sim, aquele que portugueses e espanhóis queriam evitar no caminho das Índias e acabaram "descobrindo" a América. É uma espécie de atalho, que corta cerca de 9 mil quilômetros de navegação pela antiga rota, reduzindo prazos e custos - quando tudo funciona bem.
Na semana passada, Estados Unidos e Reino Unido atacaram o Houthi, argumentando que representa uma ameaça à navegação. O grupo do Iêmen reagiu chamando os disparos de míssil de "bárbaro" e prometeram seguir atacando navios dos dois países. Nesta segunda-feira (15), o ministro da Defesa britânico, Grant Shapps, afirmou que o enfrentamento é "modelo" de como seu país pretende seguir "oferecendo apoio inabalável aos aliados em tempos de dificuldade".
Entenda o conflito
O Houthi é um grupo rebelde do Iêmen que já ocupa boa parte do território do país, inclusive a capital, principalmente graças do Irã em dinheiro e armas. A justificativa dos ataques é protestar contra o combate de Israel ao Hamas na faixa de Gaza, que também é apoiado pelo Irã. Começaram a assaltar navios relacionados a Israel, mas com o tempo passaram a mirar também em embarcações de várias nacionalidades.