A escalada de ataques a navios no Mar Vermelho, que havia começado ainda no final de 2023, agora atingiu uma carga brasileira. Na segunda-feira (12), o navio MV Star Iris foi alvejado por mísseis. O atentado do grupo Houthi atingiu uma carga brasileira: era milho com destino ao Irã.
Como a coluna já relatou, o Houthi controla boa parte do território do Iêmen e tem apoio do governo iraniano. Por isso, esse ataque provocou estranhamento. Um comunicado do grupo, assinado por seu porta-voz militar, Yahya Saree, afirma o navio era americano, mas rastreadores de transporte marítimo sustentam que tinha bandeira das Ilhas Marshall e era de propriedade grega.
Tudo indica, portanto, que houve algum tipo de equívoco, o que reforça a incerteza sobre os prazos de entrega e a segurança das cargas marítimas globais. O operador deve ter considerado seguro passar pelo Mar Vermelho porque seu destino era o Irã, mas nem isso protegeu a embarcação, que teve prejuízos materiais mas não vítimas.
As contínuas agressões já haviam provocado problemas para o comércio marítimo global. Nesta quarta-feira (14), a segunda maior transportadora marítima global, a AP Moller-Maersk advertiu seus clientes para se prepararem para uma extensão da crise.
—Infelizmente, não vemos nenhuma mudança no Mar Vermelho acontecendo tão cedo. As rotas de trânsito mais longas podem durar até o segundo e, potencialmente, (até) o terceiro trimestre. Os clientes precisarão estar seguros de que terão um tempo de trânsito geral mais longo integrado em sua cadeia de suprimentos — disse Charles van der Steene, presidente regional da Maersk North America, à rede de TV americana CNBC.
Para o presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, "o que está acontecendo em Gaza, mas também os desafios da Ucrânia (...) e do Mar Vermelho", são os principais desafios para a economia mundial. Conforme a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, o mais preocupante é "um prolongamento do conflito porque (...) o risco de ele se espalhar aumenta", com "risco de propagação no Canal de Suez".
Na primeira semana de janeiro, quando os conflitos se tornaram mais frequentes e graves, o número de navios que passaram pelo Mar Vermelho caiu 45% em relação a igual período de 2023, conforme dados da seguradora holandesa ING. A Maersk reduziu suas rotas pelo corredor entre a África e o Oriente Médio em janeiro, depois interrompeu totalmente o transporte local.
Os assaltos haviam começado com navios com destino ou origem em Israel, mas foram se estendendo, até que Estados Unidos e Reino Unido criaram a operação militar Guardião da Prosperidade e passaram a atingir bases desse grupo rebelde. A alternativa ao Mar Vermelho é contornar a África pelo Cabo da Boa Esperança, o que aumenta a distância e o tempo de viagem, consequentemente, os custos.
Entenda o conflito
O Houthi é um grupo rebelde do Iêmen que já ocupa boa parte do território do país, inclusive a capital. Tem apoio do Irã em financiamento e fornecimento de armas. A justificativa dos ataques é um protesto contra o combate de Israel na Faixa de Gaza ao Hamas, que também tem apoio do Irã. Começou a assaltar navios relacionados a Israel, mas ao longo dos meses também viraram alvos embarcações de várias nacionalidades, especialmente americanas, por seu apoio a Israel.