Sim, o presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, "lacrou" ao responder com contundência a uma pergunta contundente de um entrevistador da BBC. Ao ser indagado sobre a geração de estimados 2 bilhões de toneladas em emissões de carbono com a exploração de petróleo - o que inspirou a Petrobras a perfurar poços na Margem Equatorial -, Irfaan Ali ponderou que seu país preservou parte de suas florestas.
E lembrou ao interlocutor britânico que os países do Reino Unido - Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e Gales - destruíram suas matas. É verdade? É. Mas quem aplaudiu, por relativizar a geração de gases de efeito estufa ou por reagir ao "colonizador" - dependendo do ponto de vista - precisa se aprofundar no assunto.
Destruir florestas é desastroso. Mas só a partir dos anos 70 estudos científicos começaram a mostrar os efeitos da remoção de árvores sobre o ambiente e o comportamento climático. Então, de fato os países desenvolvidos dizimaram suas matas, mas muito antes de ter consciência das consequências.
Por outro lado, o Reino Unido já se beneficiou da exploração de petróleo no Mar do Norte - especialmente a Escócia, mas também o norte da Inglaterra. Começou nos anos 60, mas se estendeu até bastante tempo depois de aprendermos como as emissões de dióxido de carbono afetam o equilíbrio do planeta.
Então, é meritório que a Guiana, um país muito pobre até a descoberta de petróleo e sua transformação na "Noruega da América Latina" preserve suas florestas. Aliás, a Noruega agora investe em medidas ambientais os recursos que obteve com o material fóssil, como também faz a Escócia, que criou um programa de reflorestamento com dinheiro do "ouro negro".
O problema é que a mudança climática se antecipou e o planeta está atrasado. Toda emissão de dióxido de carbono, agora, acelera o processo e encurta a contagem regressiva para o agravamento das consequências. A realidade com a qual lida Irfaan Ali - a escolha entre aceitar mais estragos ou abrir mão de recursos essenciais - aparece todo mês, em cada evento que discute a intensificação dos efeitos meteorológicos severos: a transição energética justa.
Os países menos desenvolvidos se ressentem, com justiça, de não poder mais fazer o que já foi feito pelos que conseguiram dar maior bem-estar a suas populações. Por isso, foi feito um acordo que previa injeção de US$ 100 bilhões ao ano, a partir de 2020, dos mais ricos para os menos. Pouco saiu do papel, mesmo com cobranças recorrentes. Então, não é uma questão de estar certo ou errado ou de enquadrar colonizador. É uma questão de sobrevivência da espécie.