As imagens do impacto da estiagem sobre os cultivos de verão são espantosas: em mais uma estação quente, a terra árida ameaça levar o Rio Grande do Sul ao segundo ano consecutivo de quebra de sua principal safra, como adverte a colega Gisele Loeblein.
E, em consequência, de um desempenho econômico abaixo da média nacional. Para lembrar, de janeiro a setembro, o PIB nacional médio subiu 3,2%, enquanto o do Estado chuva-dependente caiu 6,6%.
A estiagem não afeta só a produção agropecuária. Em parte dos 140 municípios que haviam decretado situação de emergência até o último sábado, a população já se inquieta com o abastecimento de água. Mas é a quebra da safra que tem potencial para afetar não só cerca de um quarto das cidades gaúchas, mas toda a atividade econômica do Estado.
Esta estiagem não estava no radar dos economistas-chefe das principais entidades empresariais do Estado. Até a mais especializada, a Farsul, projetou crescimento de 5,8% para o PIB gaúcho neste ano, confiando que os céus providenciariam o principal combustível da safra de verão, a chuva. Mas o pluvioduto - o canal climático que traz chuva para o Estado - está danificado pela mudança climática, que afeta a confiabilidade das projeções meteorológicas.
Agora, é hora de torcer para o céu chorar. Ainda que seja pelos que ainda ignoram, por circunstâncias ou propositalmente, o impacto do desmatamento na Amazônia nos "rios voadores" - os corredores de umidade garantidos pela floresta que chegam ao Rio Grande do Sul, como descreveu em detalhes o colega Luís Felipe dos Santos.
Depois da torcida - porque há pouco tempo para impedir uma nova quebra -, a coluna seguirá cobrando o que vem cobrando há anos: na terceira década do terceiro milênio, o Rio Grande do Sul não pode mais depender de chuva, torcida e reza para garantir seu potencial de gerar emprego e renda. Precisa tirar da gaveta uma solução eficiente e com o menor custo possível - econômico, social e ambiental - para irrigar lavouras.