O Rio Grande do Sul é diferente: para tentar antever a atividade econômica, é preciso prestar atenção em inflação e juro, como em todo o mundo, mas também na meteorologia. Isso ocorre porque o Estado, em pleno século 21, ainda tem um Produto Interno Bruto (PIB) chuva-dependente.
No terceiro trimestre, o PIB subiu 1,3% em relação ao anterior e caiu 2,8% na comparação com igual período de 2021. Há uma aparente contradição: o desempenho foi muito melhor na comparação trimestral - o resultado nacional foi +0,4% - e muito pior na anual, quando a atividade econômica brasileira apontou alta de 3,6%. O que explica? A chuva-dependência.
A comparação dos nove primeiros meses (três trimestres) é ainda mais chocante: tombo de 6,6% no Estado e alta de 3,2% no país. O motivo é o mesmo. O relativo alívio do terceiro trimestre veio porque o período é menos determinado pelos resultados da agropecuária do que o segundo.
Depois dos principais efeitos da estiagem sobre a agropecuária, a economia gaúcha voltou a crescer, impulsionada pelos desempenhos positivos da indústria e dos serviços resumiu o economista Martinho Lazzari, chefe da Divisão de Análise Econômica do Departamento de Economia e Estatística, vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão.
No trimestre passado, a coluna já lembrou que a série histórica — variações ao longo dos anos — do PIB do Rio Grande do Sul costuma ser exatamente igual à nacional, com exceção dos períodos de estiagem, como ocorreu entre o final do ano passado e o início deste. Agora, o resultado ainda impactado pela falta de chuva na virada de ano é informado enquanto se acendem alertas na lavoura de milho, que sofre com o solo seco.
Depender da meteorologia, até pouco tempo atrás, era sintoma de atraso. Os países mais desenvolvidos conseguiam aplicar tecnologias que compensam as flutuações no regime de chuvas. Mais recentemente, a mudança climática desafia inclusive os mais métodos mais eficientes. O Rio Grande do Sul tem a chance de se atualizar já incorporando essa nova camada de incerteza, mas precisa fazer isso com velocidade.
Conforme o secretário do Planejamento, Cláudio Gastal, a concentração das atividades de irrigação na pasta da Agricultura no próximo mandato - uma das decisões da transição - faz parte dos esforços do governo para reduzir a chuva-dependência do PIB gaúcho. Segundo Gastal, recursos do programa Avançar vão permitir a ampliação do número de estações meteorológicas no Estado, o que deve permitir melhor prevenção de fenômenos mesmo diante da mudança climática.