O ano que começou com uma forte estiagem e foi marcado por enchentes destruidoras não chegou a ser desastroso, em termos de atividade econômica, mas chegou a ensaiar uma reação que decepcionou.
Nesta terça-feira (26), o anúncio do Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul de 2023 se limitou a um crescimento de 1,7% ante o ano anterior, abaixo de estimativas extraoficiais a que a coluna teve acesso.
O efeito acumulado de dois anos sucessivos de estiagem fez economia gaúcha perder peso: o valor da riqueza produzida no Estado em 2023 foi de R$ 640,3 bilhões, o que representa 5,9% do PIB nacional - abaixo do patamar de 6% em que o RS havia estacionado nas últimas décadas. Em 2022, com a forte queda de 5,1% do PIB, havia ficado em 5,88%. Em 2021, ainda era 6,45%.
— Esse é o peso da estiagem de 2022 e a não recuperação total no ano passado — lamentou Martinho Lazzari, chefe da Divisão de Análise Econômica do Departamento de Economia e Estatística (DEE).
Há décadas, os estatísticos repetem um mantra: a economia gaúcha só se desvia da trajetória nacional quando há estiagem intensa em um ano ou forte recuperação no seguinte. Desta vez, acumulamos dois de quebras da safra de verão. E ainda por cima as enchentes prejudicaram os cultivos de inverno, como o trigo, provocando queda de 23,% na agropecuária no quarto trimestre ante o mesmo período do ano anterior. Os números positivos da agropecuária foram obtidos sobre uma base fraca de 2022.
Além disso, a indústria de transformação - que exclui a parte extrativa, que não é relevante no Estado - enfrentou tombo de 5,4% na comparação com o ano anterior. O juro alto travou investimentos, especialmente na área dos chamados "bens de capital", formada por máquinas e equipamentos.
Conforme Lazzari, esse segmento tornou-se o principal na estrutura produtiva do Estado. Por isso, o PIB gaúcho é mais impactado com a queda de 9,4% no indicador de investimentos registrada nas contas nacionais de 2023. Além disso, paradas na produção de grandes processadoras, como Refap e CMPC, mais a produção instável na GM, contribuíram para os números negativos do setor.
Nesse cenário, um resultado positivo veio de um segmento que se inquietava com o efeito do juro alto: a construção, segundo Lazzari, teve um "desempenho importante", no mesmo ritmo nacional, com crescimento no patamar de 4%.
Curiosidade quase triste: as enchentes, que destruíram vidas, empresas e infraestrutura, permitiram um aumento de 150% na geração de energia em hidrelétricas, porque os rios encheram e foi possível contar mais com essa fonte. Não é suficiente para compensar as perdas, mas é um sinal de que tudo na vida tem dois lados.