Parecia ser uma boa ideia colocar a ministra do Planejamento, Simone Tebet - que já aproveitou para se autodeclarar "mais liberal" - para falar logo cedo e citar as palavras mágicas que o mercado e os economistas mais ortodoxos gostariam de ouvir: "corte de gastos".
Mas um pouco por desconfiança doméstica, outro pouco por tensão global com o aumento do risco no Oriente Médio, o dólar seguiu muito pressionado e, nesta terça-feira (16), ameaça quebrar a barreira psicológica de R$ 5,30.
Neste início de tarde, é cotado a R$ 5,265, depois de ter tocado a máxima diária de R$ 5,284 perto do meio-dia.
Tebet lembrou que o arcabouço fiscal não tem só meta de resultado, também um mecanismo de contenção de gastos que os limita a 75% do aumento da receita ou crescimento de 2,5% sobre o exercício anterior. Ambos seguem valendo apesar de o governo Lula ter desistido de perseguir superávit primário (resultado positivo de receita menos despesas, sem contar o pagamento da dívida) de 0,5% do PIB em 2025.
Mais que a fala de Tebet desta terça, pesou mais a de ontem do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que afirmou:
— Sempre que há uma mudança que torna o rumo fiscal menos transparente, ou menos crível, significa que você tem de pagar com custos mais elevados do outro lado, então o custo de fazer política monetária fica mais alto.
Fica claro que a manifestação de Tebet teria melhor efeito se tivesse ocorrido no final da segunda-feira, quanto técnicos do Planejamento e da Fazenda apresentaram o esboço do orçamento de 2025. A reação no câmbio é mais forte do que na bolsa. Ontem, houve uma levíssima queda, na fronteira da estabilidade (-0,49%) e hoje o mesmo ocorre, com pouca variação negativa (-0,35%). O Ibovespa defende uma pontuação ao redor de 125 mil pontos, bastante acima de um ano atrás, quando estava pouco acima de 100 mil.
Um dos motivos pelos quais o câmbio é mais afetado é o fato de o dólar ter se valorizado muito ante a várias outras moedas em decorrência do momento de maior risco geopolítico. Os títulos do Tesouro dos Estados Unidos estão outra vez perto de seu pico histórico porque a percepção é de que o horizonte para o corte do juro americano está mais nublado do que nunca. Aumento do risco externo mais ampliação da incerteza interna sobre o ajuste e a dívida fazer o real ser uma das moedas mais desvalorizadas do dia.