Ao contrário das expectativas - inclusive da jornalista que assina esta coluna - o preço do petróleo... recua na manhã desta segunda-feira (15), primeiro dia útil depois do ataque limitado do Irã a Israel.
Mesmo que houvesse a percepção de que o tamanho do impacto nos preços dependesse da dimensão da resposta de Israel, havia quase consenso de que a cotação do barril subiria, tanto pela risco específico quanto pelo aumento da incerteza no Oriente Médio.
No entanto, em sinal de que o mercado apostou ainda mais na versão de que o ataque foi planejadamente contido, o valor do barril do tipo brent em Londres diminuiu quase 1% e, neste início da manhã no Brasil - final da Europa -, é cotado abaixo de US$ 90.
A explicação predominante é a de que os mercados ainda estão avaliando como o conflito pode afetar as cadeias de suprimento globais. Mas o preço chama atenção por estar abaixo do ponto a que chegou dias antes do ataque, ante a mera ameaça de que poderia ocorrer.
Na véspera, e mesmo no início desta segunda-feira (15) havia a projeção de que o barril pudesses atingir os US$ 100 devido ao risco de ampliação do conflito no Oriente Médio. Para lembrar, nos dias que se sucederam ao ataque da Rússia à Ucrânia, o petróleo atingiu US$ 120 por barril.
Ou seja, o comportamento dos preços neste pós-ataque do Irá surpreendeu a todos. No campo geopolítico, outra explicação é a posição dos Estados Unidos sobre a re-retaliação de Israel. Representantes da Casa Branca teriam advertido o governo de Benjamin Netanyahu de que o país não participará de nenhum ataque de represália ao Irã. E teriam recomendado que os israelenses respondam de forma "cuidadosa".
Uma escalada arriscada, ou como viemos parar aqui
- No dia 7 de outubro, um ataque terrorista do Hamas a Israel deixou centenas de mortos e mais de uma centena de reféns (o número exato não é conhecido até hoje).
- A reação de Israel foi extrema, invadindo e bombardeando Gaza, território governado pelo Hamas. A ação para impedir a entrada de ajuda humanitária e à população civil do território começava a provocar uma inflexão da posição dos países aliados a Israel.
- Um grupo de rebeldes do Iêmen, o Houthi, passou a atacar navios no Mar Vermelho. Os primeiros alvos tinham relação direta com Israel, depois passaram a mirar também qualquer bandeira considerada aliada. Até uma carga brasileira foi atacada. - O Irã é considerado financiador do Houthi, assim como do Hamas e do Hezbollah, outro grupo rebelde do Líbano.
- Um ataque de Israel à embaixada do Irã em Damasco, capital da Síria, no início do mês, deixou oito mortos, entre os quais integrantes da Guarda Revolucionária do Irã.
- O Irã avisou que iria retaliar, o que fez na noite de sábado no Brasil. Disparou mísseis e enviou drones, a grande maioria interceptada pelo Domo de Ferro, escudo de proteção de Israel. Há especulações de que um ataque tão simbólico, mas também tão contido, possa ter sido planejado em conexões secretas entre os EUA e o Irã.