Depois dos problemas de abastecimento de chips na pandemia e da dramática saída da Ford do Brasil, as montadoras acumulam anúncios de investimentos de cerca de R$ 40 bilhões no Brasil.
E ainda falta o anúncio da Stellantis, um conglomerado de 20 marcas que inclui Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e RAM. Boa parte veio logo depois que o governo Lula anunciou seu plano de estímulo à indústria. Coincidência? Claro que não.
É bom lembrar que o plano prevê um total de R$ 300 bilhões para o setor, dos quais R$ 25 bilhões em financiamentos do BNDES. O anúncio do programa não foi bem recebido pelo mercado, que identificou sinais das velhas políticas de estímulo de governos do PT que impunham custos aos contribuintes. Mas animou as montadoras, para as quais haveria ao menos R$ 19 bilhões disponíveis para novas tecnologias.
Embora as vendas internas tenham encolhido durante a pandemia, sem voltar aos níveis anteriores, o Brasil continua sendo um importante mercado para a indústria automobilística. Além disso, é uma plataforma de exportação, apesar de enfrentar as constantes crises do cliente mais integrado, a Argentina.
Inúmeras montadoras já anunciaram o fim da produção de modelos com motor a combustão - Jaguar no próximo ano, Volvo, em 2030, Mercedes-Benz, em 2039, só para citar alguns exemplos. E enquanto o mundo todo discutia a nova fase desse segmento, voltada à eletrificação, o Brasil marcava passo. As vendas de modelos eletrificados até cresce, mas o percentual da frota no país ainda é baixíssimo.
O plano, que o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, gosta de chamar de "neoindustrialização", oficializou o incentivo à descarbonização. E como Alckmin também afirmou, esse estímulo será bancado, em parte, pelo aumento do imposto de importação de carros elétricos e híbridos.
A Tesla de Elon Musk já havia começado a virar o jogo - no ano passado, seu valor de mercado superou a soma de todos os fabricantes de veículos com ações em bolsas de valores. E no último trimestre, foi superada em número de unidades vendidas pela chinesa BYD (Build Your Dreams). Esse é outro ingrediente do bolo bilionário: o desembarque das chinesas no Brasil. A Great Wall Motors já havia anunciado R$ 10 bilhões, e a BYD confirmou seus R$ 3 bilhões depois do anúncio do estímulo.
E há outra camada que dá sustentação aos investimentos bilionários das montadoras: é uma característica do segmento ter rodadas periódicas de atualização, recheadas com muitos cifrões, tanto para atualização tecnológica quanto para renovação dos modelos.
Investimentos anunciados para os próximos 10 anos
- Great Wall Motors (GMW) | R$ 10 bi
- Volkswagen | R$ 9 bilhões
- General Motors | R$ 7 bilhões
- Renault | R$ 5,1 bilhões
- Caoa | R$ 4,5 bilhões
- BYD | R$ 3 bilhões
- Nissan | R$ 2,8 bilhões