Com distribuição de fitas do Senhor do Bonfim, acarajé e suco de caju, mais a presença de fundador e CEO Global, Wang Chuanfu, da CEO Américas, Stella Li, e do presidente no Brasil, Tyler Li, a montadora chinesa BYD lançou nesta segunda-feira (9) a pedra fundamental da primeira fábrica de carros elétricos do Brasil.
Será em Camaçari, região metropolitana de Salvador, na Bahia. O governo baiano, que havia comprado a área de um milhão de hectares da Ford, doou a estrutura à BYD, que também vai usar a área do porto de Aratu, que era operada pela companhia norte-americana.
A promessa é de investir ao menos R$ 3 bilhões, e criar cerca de 5 mil empregos — o fechamento da Ford deixou 12 mil desempregados. A montadora chinesa vai ocupar as instalações nas quais a montadora americana produziu o EcoSport por duas décadas, depois de fazer ensaio de se instalar no Rio Grande do Sul e, em 2021, abandonar o Brasil.
Wang Chuanfu mencionou a importância da Amazônia e do valor que os brasileiros dão ao meio ambiente — ao menos na perspectiva chinesa — para implantar aqui uma unidade da primeira montadora do mundo a encerrar a produção de veículos a combustão:
— Essa é uma área em que o Brasil será referência.
Na solenidade, em que participaram o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, Stella Li destacou o fato de a BYD estar apenas em três países — e um deles é o Brasil. Li avisou:
— Viemos para mudar o jogo.
E encerrou assim:
— Eu acredito no Brasil.
Ministro da Casa Civil e ex-governador da Bahia, Rui Costa disse que, momentos antes, o presidente Lula havia falado com Wang, o fundador da BYD.
A unidade brasileira será a terceira da BYD e a segunda fora da China. A primeira foi na Tailândia.
O plano da BYD é ter não só uma montadora, mas três unidades fabris no local: uma fábrica de carros, outra de chassis de caminhões e ônibus — a chinesa fez parceria nessa área com a gaúcha Marcopolo — e de células para baterias de lítio e ferro fosfato. Stella também anunciou um centro de pesquisas da BYD no Brasil, formado por engenheiros locais e chineses.
Os primeiros modelos fabricados em Camaçari serão os SUV Song Plus e Song Pro, além do hatch compacto Dolphin. O Dolphin é vendido no país desde julho, por cerca de R$ 150 mil, segundo elétrico mais barato, atrás apenas do JAC E-JS1.
A produção de veículos deve começar com 150 mil unidades ao ano, podendo chegar a 300 mil unidades, com planos de exportar para outros países da América Latina. No Uruguai — país que aprecia carros compactos e asiáticos —, há anos existe grande circulação de BYD, antes a combustão, agora elétricos. A montadora chinesa começou a transição em 2019 e, já no ano seguinte, parou de produzir veículos abastecidos com combustíveis fósseis.
Na China, a BYD tem oito unidades fabris. A maior e mais moderna fica em Changzhou, onde o processo completo de montagem de uma unidade leva em média quatro horas. Conforme a empresa, será modelo para as instalações de Camaçari. Sai um carro a cada minuto da linha de produção. No ano passado, foram fabricados 240 mil veículos, por 12 mil funcionários e robôs da japonesa Fanuc e da alemã Kuka.
O mercado de elétricos no Brasil
A venda tem crescido muito, mas o número desse tipo de veículo ainda representa uma pequena fração da frota total. Em setembro, foram vendidos 1.830 carros elétricos, 56,8% a mais do que no mês anterior. Foi o recorde de vendas da categoria em um só mês, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Mas basta comparar com as vendas totais de automóveis no mês, de 145.682, para constatar que é um mercado ainda em desenvolvimento.
No mês passado, o líder de vendas foi a novidade da BYD, o Dolphin, com 1.036 unidades — mais do que a soma de todos os outros modelos à venda.
O que é a BYD
Em fevereiro de 1995, Wang Chuanfu fundou uma montadora em Shenzhen, província de Guangdong, na China. Sua proposta era tornar o carro mais acessível, por isso chamou a empresa de Build your Dreams (construa seus sonhos), que virou a sigla BYD (pronuncia-se biuaidí, com o "d" atenuado). Wang (é preciso lembrar que os chineses usam o sobrenome à frente do prenome) é considerado uma espécie de Elon Musk chinês, com menos excentricidades.
Quando cursava o ensino médio, ficou órfão de pai e mãe, e ficou sob a guarda dos irmãos mais velhos. Formado em Química Metalúrgica, fundou a empresa aos 29 anos, depois de anos atuando como pesquisador com bolsas concedidas pelo governo chinês. Hoje, a empresa é a maior fabricante de baterias para celulares, além de fabricante de veículos elétricos.
A BYD no Brasil
Chegou em 2015, com a primeira montadora de ônibus 100% elétricos, em Campinas (SP). Em 2017, outra fábrica, de painéis voltaicos na mesma cidade. Em 2020, abriu a terceira instalação, desta vez no Polo Industrial de Manaus (PIM), para produzir baterias de fosfato de ferro-lítio (LiFePO4).
É responsável por dois projetos de monotrilho: em Salvador, com o VLT do Subúrbio, e na cidade de São Paulo, com a Linha 17 – Ouro. Em abril de 2021, a BYD Brasil aderiu ao Pacto Global, iniciativa da ONU para adoção e promoção de 10 princípios nos negócos, como direitos humanos, trabalho, ambiente e combate à corrupção. Em novembro de 2021, estreou no mercado nacional de veículos elétrico com o SUV Tan.