Marta Sfredo

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A coluna online é um pouco diferente da GPS da Economia, de Zero Hora, que também assino. Aqui, cabe tudo. No jornal impresso, o foco é em análise dos temas que determinam a economia (juro, inflação, câmbio, PIB), universo empresarial e investimentos.

Tensão crescente
Análise

Risco de escalada de conflito provoca pressão sobre petróleo e comércio global

Ataques no Mar Vermelho, no Líbano e no Irã aumentam probabilidade de que combate entre Israel e Hamas rompa fronteiras, com consequências geoeconômicas

Marta Sfredo

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No final de 2023, começou um série de ataques a navios no Mar Vermelho. Esse "corredor" estreito e longo separa o norte da África do Oriente Médio é uma das mais estratégicas vias navegáveis do planeta, que termina no Canal de Suez - aquele que, em março de 2021, foi interrompido por um navio encalhado que transtornou o comércio global.

Os agressores são de um grupo rebelde do Iêmen - no sul do Mar Vermelho -, o Houthi, apoiado pelo Irã. No início, visavam embarcações ligadas a Israel, alegadamente em solidariedade a Gaza, que vem sendo atacada pelo país. Quando o alvo foi uma operada pela Maersk, no último dia de 2023, companhia de origem dinamarquesa e uma das maiores do mundo em transporte marítimo, os Estados Unidos dispararam mísseis contra os barcos do Houthi.

O Houthi não é um grupo rebelde sem estrutura: controla boa parte do território do Iêmen, inclusive a capital, Sanaa. Em reação, o Irã mandou um navio de guerra (destroyer) para o Mar Vermelho. Esse é o sujeito não muito oculto comum que conecta o conflito entre Israel e Gaza: o Irã é considerado o principal financiador do Hamas, que governava o território palestino até o atentado terrorista em 7 de outubro. Hoje, não se sabe se ainda há alguma gestão na estreita faixa.

Nesta quarta-feira (3), a escalada subiu mais de um degrau: um ataque no Irã deixou cerca de cem mortos perto do túmulo de Qassem Soleimani, general do Irã morto em ataque de drone dos EUA perto do aeroporto de Bagdá em 3 de janeiro de 2020 - ou seja, há exatos quatro anos. O número de vítimas foi grande porque, devido à data, muitas pessoas prestavam homenagens ao líder iraniano. E isso ocorreu no dia seguinte ao ataque que causou a morte de um dos líderes do braço armado do Hamas, Saleh al-Arouri, nos arredores de Beiture, no Líbano.

Todos esses episódios convergem para um momento delicado na tentativa manter isolado o conflito entre Israel e Hamas. O sempre temido - e sempre evitado - envolvimento do Irã, começa a parecer menos improvável. E o ataque de Israel em território libanês eleva os riscos relacionados ao Hezbollah, outro grupo rebelde com alto poder de fogo, também financiado pelo Irã. 

Ou seja, nos últimos dias cresceu o risco de que confronto rompa as fronteiras, o que teria consequências econômicas, das quais a mais imediata seria o aumento do preço do petróleo. Até esta quarta-feira (3), a cotação do barril do tipo brent segue contida abaixo dos US$ 80. Mas começa a chegar perto: na tarde em Londres, onde fica a bolsa que define os valores diários, sobe 2,88% para US$ 77,91. 

E começa a ser precificado algum impacto no comércio mundial. Passa pelo Canal de Suez, que se conecta no norte ao Mar Mediterrâneo, cerca de 12% de todo o tráfego global de cargas - cerca de 50 navios por dia. As grandes transportadoras - inclusive a Maersk - haviam anunciado, ainda em dezembro, que evitariam passar pelo Mar Vermelho enquanto houvesse ataques. Não colocaram em prática, como evidencia o caso que fez a crise escalar, mas agora devem implementar, com possíveis efeitos sobre o preço do frete marítimo em todo o planeta. 

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