Quantas vezes ao dia alguém que chega a sites nunca antes navegados tem de preencher aquele formulário que tenta limitar o alcance das big techs a seus dados? Na pressa, muitas vezes os usuários clicam em "autorizar tudo", sem pensar muito no que isso significa.
Mas significa: além de se expor voluntariamente, quem faz essa opção também faz uma doação valiosa de dados que, depois, viram mais dinheiro na mão de companhias que podem ser trilionárias, caso da dona do Google, que agora promete moderar seu apetite pela vida alheia.
Desde a quinta-feira (4), a Alphabet (dona do Google e do Chrome) começou a reduzir o uso de cookies, que são arquivos com fragmentos de dados, como nome de usuário e senha, usados para identificar um usuário durante a navegação. O navegador é usado por cerca de 75% dos brasileiros que circulam na internet. Não serão os doces cookies, que permitem que páginas já abordadas sejam carregadas com mais rapidez, mas os amarguinhos, chamados "de terceiros", que invadem a privacidade sem parecer que o fazem.
Mas o que houve com o Google para tomar essa decisão que enfim contempla os humanos para os quais privacidade ainda é um valor? Entrou o ano com bons propósitos? Não, está se vacinando contra o risco de uma enxurrada de multas e outros tipos de sanções que poderia encarar caso mantivesse a prática. Começou com 1% dos usuários e promete chegar a 100% no terceiro trimestre - a partir de julho, portanto.
Ocorre que os cookies intrusivos passaram a ser alvo de regulamentação mais rigorosa, como o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) da União Europeia, que estreou ainda em 2016 e uma lei nesse sentido adotada pela Califórnia - onde fica a sede da maioria das big techs, Alphabet incluída (Montain View). A promessa de abandonar os chamados "cookies de terceiros" - pelos quais, obviamente, é remunerada - havia sido anunciada ainda em 2020, para ser completada em dois anos. Só começou a ser implementada agora, quatro anos depois.
O fato de ter menos cookies pululando na internet não quer dizer que os dados não serão alimentados: só que em vez de mirar cada usuário, agora o foco passam a ser os diferentes segmentos de audiência, chamados "FLoC", que incluem milhares de pessoas. Ou seja, ainda vai valer a máxima se você não paga pelo produto, o produto é você.