No ano em que os economistas erraram quase tudo, até o boletim Focus ficou meio desfocado. O informe que também é conhecido como "consenso do mercado", porque traz as projeções da maioria das cerca de cem instituições financeiras e consultorias, é essencial porque serve de base para o planejamento de muitas empresas. E, se começou o ano com projeção de crescimento do PIB de 0,78%, terminou com 2,92%.
Nesta terça-feira (26), a última edição de 2023 manteve essa estimativa, mesmo depois que o Banco Central (BC) ajustou a sua para 3%. Mas elevou em mais 0,01 ponto percentual a perspectiva de crescimento para 2024, de 1,51% para 1,52%. Vários grandes bancos já estimam alta na casa de 2%.
E, curiosamente, foi a única variável que não oscilou no boletim que encerra este surpreendente 2023, que já teve até três quebras sucessivas de recorde na pontuação nominal da bolsa de valores. Caiu mais um pouquinho a estimativa para inflação no final do ano, de 4,49% para 4,46% e a previsão de fechamento de câmbio, de R$ 4,93 par R$ 4,90.
Mas se quase tudo melhorou, um aspecto piorou na última semana normal do ano - a passada, já que os dados são sempre coletados até a sexta-feira anterior: o fiscal. A relação dívida/PIB foi de 61% para 61,2%, e o resultado do déficit primário - aquele que, em tese, tem de ser zero em 2024 - para este ano foi de 1,3% para 1,4%. Para o próximo ano, a maioria manteve a aposta de quase todo o ano, de 0,8% de déficit primário, ou seja, segue o ceticismo sobre a meta de equilibrar as contas já no segundo ano de governo Lula.
Outra surpresa embutida no último Focus publicado em 2023 é a da taxa de juro projetada para o final de 2024, que caiu de 9,25% para 9%, por influência da interpretação benigna do comunicado do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA). O mercado interpretou que o juro deve começar a cair por lá em meados de 2024, abrindo espaço para a sempre renovada - e sempre adiada - expectativa de que o BC nacional afie sua tesoura e faça corte de mais de 0,5 ponto percentual. Se o fizer, não deve ser antes de maio, já que o Comitê de Política Monetária (Copom) já avisou que vai manter o ritmo atual até março.