Não veio o corte do plural na expressão "próximas reuniões" no comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) que era esperado por boa parte do mercado.
E o fato de não ter ocorrido mesmo horas depois que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sinalizou início dos cortes por lá gerou suspeita de que o Banco Central (BC) por aqui tenha sido conservador para além das expectativas.
Mas, afinal, qual é a consequência econômica de um simples plural? Ao afirmar que "os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões", o BC sinaliza que a Selic terá mais dois cortes de 0,5 ponto percentual e chegará, em 20 de março de 2024 (data da segunda reunião do Copom do próximo ano) em 10,75%.
O sinal de que o cenário estava confortável já havia sido reforçado pelo comportamento benigno da inflação em novembro. Além de o IPCA cheio ter variado apenas 0,28%, abaixo das expectativas, os núcleos - conjunto de itens que oscilam menos - seguem em baixa, assim como o "índice de difusão", que mede quanto a alta de preços está espalhada pela economia.O fato de o comunicado ter sido quase um "copia e cola" do anterior gerou interpretações de conservadorismo:
— O tom é mais conservador do que eu imaginaria — escreveu Marco Antonio Caruso, economista-chefe do PicPay.
Segundo Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine, "a manutenção do plural (...) sinaliza que a opção (...) é não antecipar completamente o cenário mais benigno para a inflação e nem o ambiente externo menos desafiador". Avalia que esse "maior conservadorismo" é calculado para dar credibilidade ao Copom. Mesmo com plural mantido, Oliveira reduziu sua estimativa de Selic no final de 2024 de 9,75% para 9% ao ano.