Em linha com o que o comunicado de novembro já havia antecipado, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, no encerramento da última reunião de 2023. Com isso, o juro básico da economia nacional volta ao patamar de 11,75% ao ano, a exemplo do que aconteceu há 21 meses, em março de 2022.
Essa foi a quarta dose de igual proporção aplicada pelo colegiado do Banco Central (BC) desde agosto, quando teve início um novo ciclo de redução, após 12 meses estacionado em 13,75% ao ano. O movimento é possibilitado por um ambiente inflacionário mais controlado que contempla o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dentro da meta pela primeira vez desde 2021.
Vale lembrar: juros mais baixos favorecem investimentos e reforçam a confiança dos empresários. Ao mesmo tempo, facilitam a liberação de crédito mais barato, potencializando o consumo. Os dois fatores são sempre desejáveis para aquecer a atividade econômica, gerar empregos e melhores ganhos salariais.
A descompressão confirmada nessa quarta-feira era esperada pelos analistas, já que os membros do comitê foram unânimes em antever 45 dias antes uma redução de igual proporção (0,5 ponto percentual) para as “próximas reuniões”, caso se repetisse o cenário esperado.
Com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançando 4,04% no acumulado até novembro e convergindo para o centro da meta (3,25% com teto de 4,75% em 2023) pela primeira vez desde 2021, as zonas de atenção estavam outra vez voltadas ao texto oficial e a captar os sinais capazes de projetar os próximos passos.
E, outra vez, não houve surpresa. A frase do último comunicado do ano veio com igual redação. Significa que o ritmo de cortes em 0,5 ponto percentual seguirá, pelo menos até o dia 20 de março, data em que está agendado o segundo encontro do colegiado no próximo ano. O texto também enfatiza uma expressão que tem sido usada, mas cuja tendência é de alteração:
"Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas".
Isso acontece, conforme explica Patrícia Palermo, economista-chefe da Fecomércio-RS, porque as contas públicas, alvo de uma série de manobras para flexibilizar critérios estabelecidos, impactam as expectativas de inflação e, por consequência, as estratégias do BC
Mudanças no radar
Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos, alerta para o fato de que em 2024 a meta inflacionária passará a respeitar o intervalo entre 3% e 4,5% ao ano. E, segundo ele, mesmo que a inflação oscile dentro da banda superior à meta, o Banco Central não necessariamente terá de aumentar a magnitude do corte de juros para um ritmo superior ao de 0,50 ponto percentual praticado nas últimas reuniões.
— Acreditamos que, nas próximas três reuniões em 2024 (31 de janeiro, 20 de março e 8 de maio), a depender do comportamento das variáveis macroeconômicas, os juros devem estacionar próximo ao patamar de 10,25% ou 10% ao final deste ciclo — comenta, ao lembrar que, se tivesse de escolher uma palavra para definir 2024, seria "disciplina".
Isso significa, conforme Simioni, dosar a mão no real compasso em que o mercado entenda com que nível de seriedade o governo agirá no cumprimento da meta fiscal longo do primeiro semestre. A fala do economista-chefe da Blue3 corrobora com o que pensa o economista e professor da UFRGS Marcelo Portugal, que antevê o retorno de um embate mais aclarado sobre o tamanho da queda da Selic, a partir de março, momento em que estará no radar a necessidade de bloqueio de recursos orçamentários para alcançar a meta estipulada pelo arcabouço fiscal.
Oscar Frank, economista-chefe da CDL Porto Alegre, acrescenta que mais adiante, no final do ano que vem, dentro de um horizonte relevante para os economistas, o entendimento é de que algumas ameaças podem impedir um ciclo que aponte para os patamares esperados, ou seja, próximas de 9%.
— Mas, se a economia surpreender, como vem acontecendo, bem como a manutenção da taxa de desemprego abaixo dos nossos padrões, apesar do mercado de trabalho poder contribuir para ganhos reais mais elevados, o que constitui uma ameaça, o cenário a ser monitorado não é só a inflação em que a situação é relativamente positiva, mas também o risco fiscal — argumenta.