Pouco ou quase nenhum suspense envolve a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a nova taxa básica de juro do país, na noite desta quarta-feira (13). Isso porque o próprio presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, admitiu verbalmente o que o comunicado do último encontro já antecipava:
“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude (0,5 ponto percentual) nas próximas reuniões”, diz o texto assinado pelo colegiado, em novembro. A frase não deixa dúvidas sobre o tamanho do corte que, ao que tudo indica, diminuirá a Selic dos atuais 12,25% ao ano para 11,75%, patamar verificado em março de 2022.
Diante dos fatos, o foco do mercado estará direcionado, na noite desta quarta-feira (13), para o mesmo trecho da nota oficial. E o interesse, conforme explica o economista e professor da UFRGS, Marcelo Portugal, é mais gramatical do econômico. Trocando em miúdos, caso a redação da frase permaneça no plural, significa que o ciclo de redução da taxa de juros permanecerá norteado por descompressões de 0,5 ponto percentual até o dia 20 de março, data em que ocorre a segunda agenda do comitê no próximo ano.
Mas se vier no singular, sem o “s”, explica Portugal, o mistério sobre a velocidade de redução da taxa voltará a pairar sobre o mercado em 31 de janeiro, data da primeira reunião do colegiado no próximo ano.
Oscar Frank, economista-chefe da CDL Porto Alegre, arrisca o seu palpite:
— Entendo que será no plural, sinalizando que o ritmo será mantido, até em razão de uma melhora significativa no mercado internacional que passa pela redução dos juros da dívida norte-americana de 10 anos.
Na mesma linha, Patrícia Palermo, economista-chefe da Fecomércio-RS, também afirma que não devem haver surpresas na definição desta quarta-feira. É o que faz com que a expectativa da Fecomércio-RS seja de encerrar o ano de 2024 com uma taxa de juro em 9,75%.
Fatores a serem levados em conta
Além do processo de desinflação, que continua em curso, a trajetória dos juros a partir do próximo anos depende de outros dois fatores: o cenário internacional e as contas públicas internas, ambos com influência nas expectativas de inflação.
Sobre o primeiro item, o economista da FGV Mauro Rochlin sustenta que é preciso prestar atenção no juro norte-americano. Ele explica que se o Fed (o Banco Central dos EUA) iniciar novo ciclo de queda na taxa lá fora, haverá impacto nas decisões do BC brasileiro, em razão de respingos para a convergência do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o centro da meta (3,25%, com tolerância da 1,5 ponto percentual).
Para Oscar Frank, entretanto, o grande desafio, entre os três vetores, é o desequilíbrio das contas contas públicas. Segundo ele, esse é o elemento que mais pesa para que a queda não seja tão intensa quanto a que o mercado está imaginando para o próximo ano, ou seja, algo próximo a 9,25%, em dezembro de 2024.
— O cenário a ser monitorado não é só pela inflação. Embora a situação seja relativamente positiva, temos boas notícias nesse campo, mas permanece elevada lá fora e tem as situações geopolíticas que constituem grandes incertezas, bem como a manutenção da taxa de desemprego abaixo dos nossos padrões. Com isso, o mercado de trabalho pode contribuir para ganhos reais mais elevados, o que constitui outra pressão inflacionária.
Fim da trégua entre o Planalto e o BC
O economista e professor Marcelo Portugal afirma que a dúvida e as discussões sobre a velocidade dos cortes deverá ser reestabelecida a partir de março, em razão do momento em que terão de ser definidos os contingenciamentos de gastos públicos para o cumprimento das metas estabelecidas pelo arcabouço fiscal.
Por isso, ele antevê a volta da dissonância entre o palácio do Planalto e o Banco Central. Ele lembra que desde agosto, quando teve início esse ciclo de redução da taxa, o presidente Lula não tem criticado as ações do Copom, a exemplo do que fazia abertamente desde o primeiro dia de seu mandato.