Era para ser o "ano do abacaxi": a elevação de juro nos Estados Unidos levaria o país à recessão e arrastaria o resto do mundo, Brasil inclusive. Essa era a perspectiva em janeiro.
Na segunda metade de dezembro, os EUA fizeram o famoso "pouso suave", já projetam corte na taxa de referência em 2024, enquanto no Brasil a projeção para o PIB está em torno de 3% e, nesta segunda-feira (18), a bolsa de valores fechou com recorde histórico em pontos: 131.083. O dólar recuou 0,65%, para R$ 4,905.
Foi resultado de avanço modesto (0,68%), mas acumula aumento de 2,95% no mês e de 19,46% no ano. Analistas observam que não se trata de um aumento real, só nominal (sim, os pontos também podem ser inflacionados). Com a atualização monetária, o nível atual ainda está cerca de 40% inferior ao de maio de 2008 - pouco antes do estouro da bolha imobiliária.
Mas algo é claro: o humor do mercado mudou. E isso ocorreu porque o humor do mundo mudou neste ano difícil. O acelerador da bolsa foi o comunicado feito na semana passada pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), que projetou redução de juro. Mas o Ibovespa só deslanchou porque não houve freio interno, apenas derrapadas.
E mal essa nova marca foi alcançada, a confiança no "agora vai" já desperta projeções ainda mais ambiciosas. O banco Santander está projetando que a bolsa evolua para até 160 mil pontos no final do próximo ano, embalada exatamente pelos esperados cortes de juro nos EUA. O gigante Bank of America é até mais comedido: aposta em 145 mil pontos daqui a um ano.
No penúltimo boletim Focus do Banco Central (BC, o brasileiro), a projeção de inflação encolheu mais um pouquinho, de 4,51% para 4,49%, e a projeção de Selic para 2024 só permanece nos mesmos 9,25% porque o "consenso de mercado" já estava mais alinhado do que estimativas mais conservadoras, acima desse número.
Então, o recorde de pontos na bolsa não foi resultado da mudança de governo, até porque a marca anterior era exatamente da administração precedente. Mas também não ocorreu "apesar" de problemas da gestão atual, porque se fossem profundos não haveria clima para recorde. O mercado olhou para fora e olhou para dentro. E os dois resultados foram melhores do que o esperado.