O adiamento do anúncio das duríssimas medidas econômicas que serão adotadas no governo de Javier Milei na Argentina criou uma situação complicada: para evitar uma eventual disparada do dólar, o governo determinou uma restrição quase total às transações cambiais controladas pelo Banco Central de la Republica Argetina (BCRA), que esvaziou o mercado e segurou até o "blue", paralelo mais usado no país.
O resultado é que houve confusão nos bancos, que ficaram sem saber o real alcance do "virtual feriado bancário". Mas uma cotação indicou o que o mercado espera: o dólar futuro se manteve 100% acima do oficial, indicando o tamanho da maxidesvalorização que deve ocorrer nos próximos dias.
A diferença havia chegado a esse patamar dias antes, quando o próprio Milei avisou que a Argentina viveria um período de estagflação depois de um grande salto do dólar. No duríssimo discurso de domingo, o presidente projetou que a inflação mensal chegue a março por volta de 40%.
Na tarde desta segunda-feira (11), o ministro da Economia, Luis "Toto" Caputo, reuniu-se com Milei para o que se supõe que tenha sido a última checagem antes do anúncio das medidas, previsto para a terça-feira, mas ainda sem horário confirmado. Obviamente, o ministro foi cercado por repórteres em busca de pistas, mas nem piscou para não reagir às perguntas.
O dólar blue, o paralelo mais usado na Argentina, praticamente não se moveu, perto dos mil pesos por dólar. Afinal, já está 148,43% acima do oficial, muito mais alto do que o futuro. O índice Merval da bolsa argentina chegou a subir, mas menos de 1%, sem muita convicção.
Os anúncios esperados
- Proibir o Banco Central de financiar o Tesouro
- Eliminar subsídios nas contas de luz e gás e no transporte público de forma gradual entre janeiro e abril
- Não fazer novas obras públicas, a não ser as que tenham financiamento externo
- Aumentar impostos sobre as importações
- Prorrogar o Orçamento de 2023 para congelar gastos
- Suspender contribuições não reembolsáveis às províncias
- Congelar benefícios orçamentários para empresas privadas
- Congelar o financiamento a universidades aos níveis de 2023
- Liberar preços de combustíveis e pré-pagos
- Reduzir salários públicos
- Transferir as Leliqs (títulos do BCRA) para o Tesouro Nacional
- Transformar empresas públicas em S/As para facilitar a privatização
- Desvalorizar e fixar o dólar comercial em torno de 600 pesos, com imposto adicional de 30% para financiar o programa social Por uma Argentina Inclusiva e Solidária (Pais), o que levaria a cotação efetiva para perto de 800 pesos