A pergunta que circula neste domingo (10), dia da posse de Javier Milei na presidência da Argentina, não é "se" o dólar vai subir, mas "quanto". Na sexta-feira (8), todos os tipos de câmbio existentes no país - mais de uma dezena - subiram, e o blue, o paralelo mais usado, encostou outra vez em mil pesos, mas foi um movimento discreto perto da expectativa.
A posse atrasou, porque Milei era esperado no Congresso às 11h, mas só deixou depois das 11h30min o Hotel Libertador, onde escolheu - pelo nome - se hospedar desde a campanha.
Embora Milei já tenha deixado bem claro o que espera os argentinos nos próximos meses - alta no dólar e estagflação -, o que se especula é a profundidade do ajuste que prepara. O que o futuro ministro da Economia, Luis Caputo, já anunciou, foi a intenção de eliminar com rapidez o déficit atual de imensos 5,5% do PIB. E de fazer uma "mezcolanza" (mistura) dos cerca de 15 tipos de câmbio que existem hoje no país.
Na chegada à cerimônia, o futuro ministro do Interior, Guillermo Franco, a quem se atribui a articulação política de Milei, evitou afirmar que já tenha garantido apoio parlamentar com uma expressão muito típica no país: "estamos en eso", algo como "estamos tentando".
O partido do governo, La Libertad Avanza (LLA), tem apenas 38 dos 257 deputados e oito dos 72 senadores. Por isso, além do apoio do partido do ex-presidente Maurício Macri, o PRO, a busca de votos suficientes para aprovar as duras medidas de Milei inclui a indicação de peronistas para postos-chave. O esforço foi feito para tentar aprovar o "proyecto omnibus", o pacote de medidas econômicas que será detalhado na segunda-feira (11) pelo ministro da Economia, Luis Caputo.
Nas ruas, a população fala em "esperança". Na sexta-feira (8), a despedida do quase ex-presidente Alberto Fernández aumentou - se ainda havia espaço - a rejeição a seu mandato, com uma frase:
— A Argentina é um país muito melhor do que há quatro anos, com mais trabalho, mais obras de infraestrutura, mais casas, mais indústria, mais universidade, mais direitos para as mulheres, mais desenvolvimento de ciência e tecnologia.
Com exceção do penúltimo aspecto, é difícil encontrar amparo em dados à saudação final. Quatro anos depois, o Produto Interno Bruto segue no mesmo nível de 2012, a inflação está perto de 150% ao ano. Então, a esperança é de que essa situação mude. Mas o próprio Milei já advertiu: vai piorar antes de melhorar. Se é que vai melhorar.
Curiosidade 1: a emissora pública de rádio e TV da Argentina, RTA,que Milei prometeu privatizar, assumiu as transmissões de sua posse.
Curiosidade 2: a primeira mão que Milei apertou ao chegar ao Congresso foi a de... Cristina Kircher, como ainda presidente do que, na Argentina, é chamado de "Cámara de Senadores", ou seja, a casa mais alta do parlamento. E foi Cristina, em seu estilo, digamos, impositivo, que orientou o novo presidente no cerimonial - com direito a uma conversa mais longa do que poderia ser prevista no final, com um "gracias" final de Milei. Logo depois do juramento da atual vice-presidente, Victoria Villaruel, Cristina deixa a presidência do Senado e a sessão que empossou o novo comando do país é encerrada.
Curiosidade 3: o ex-presidente Jair Bolsonaro, que está na Argentina desde sexta-feira (8), ocupa o mesmo espaço destinado a ex-presidentes argentinos, como Maurício Macri e Eduardo Duhalde.
Curiosidade 4: ao cumprimentar Milei depois de passar a faixa, o agora ex-presidente, Alberto Fernández, deu até um sorriso ao sucessor.
Curiosidade 5: segundo a imprensa argentina, ao assinar o termo de posse, Milei voltou a declamar seu mantra "viva la libertad, carajo". Fora dos microfones, claro, porque o cerimonial desaconselha palavrões na posse.