Não é só no Brasil que há dificuldades para entender as reviravoltas na montagem de governo de Javier Milei: os argentinos também estão perplexos. Está "todo al revés", como costumam caracterizar quando nada ocorre como o esperado.
Além de sua futura chanceler, Diana Mondino, ter ido ao Itamaraty entregar convite para que Luiz Inácio Lula da Silva vá à posse, e de o formulado do programa de dolarização, Emilio Ocampo, ter sido excluído do governo, devido à escolha do "Messi das finanças" para o Ministério da Economia, o presidente eleito ainda substituiu uma "mileísta de primeira hora" na gestão da previdência por um... peronista.
Milei viajou na noite de domingo (26) para os Estados Unidos com o futuro chefe de gabinete da Casa Rosada, Nicolas Posse, e Caputo. Como a coluna havia adiantado, o "Messi das finanças" ganhou esse apelido por ter negociado o maior acordo da história do Fundo Monetário Internacional (FMI). Agora, terá de renegociá0-lo.
Sempre é bom lembrar que, no peronismo, cabe tudo, da direita à esquerda. O próprio Milei teria se "confessado" peronista, de vertente menemista - de Carlos Menem, que fez até hoje o governo mais liberal da Argentina em ao menos um século - em seu encontro com o atual presidente, Alberto Fernández.
Na sexta-feira (24), mal se soube do afastamento de Ocampo e da informação de que o presidente do Banco Central seria Demian Reidel, número 2 na instituição no governo Macri, Milei fez questão de reforçar que a extinção do BCRA era "inegociável". Reidel, então, declinou do convite, e até agora não se sabe quem ocupará o cargo.
Para os argentinos, a maior surpresa foi troca na Anses (Administración Nacional de la Seguridad Social, espécie de INSS da Argentina). Milei já havia confirmado no cargo Carolina Píparo, uma deputada do partido La Libertad Avanza, do presidente eleito. Mas durante a semana, mudou para Osvaldo Giordano, para outro apoio fundamental para a eleição de Milei, a do ex-governador de Córdoba Juan Schiaretti, que disputou a eleição para a presidência e ficou em quarto lugar, com 7% dos votos totais.
Ocorre que Schiaretti e Giordano são peronistas, mas do ramo que mais combateu o kirchnerismo - de Néstor e Cristina Kirchner, ambos presidentes do país. Foi em Córdoba que Milei encerrou sua campanha e colheu a maior votação: 74%, 48 pontos acima do adversário. Em Córdoba, poucos representam mais "a casta" - como o presidente eleito costumava chamar os políticos tradicionais - do que Schiaretti. Se hay gobierno, soy contra, poderia dizer o candidato Milei. Eleito, se hay gobierno, hay casta.