Na COP28, que começa na quinta-feira (30), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva levará dados positivos - o desmatamento da Amazônia caiu 61%, permitindo a redução de 5% nas emissões de gases do efeito estufa no Brasil - hoje, a maior contribuição é das queimadas.
Mas o presidente tem uma agenda paralela em Dubai: apesar do ceticismo da coluna, os sinais são de que avançou a tentativa de um novo acerto entre Mercosul e União Europeia até 7 de dezembro, quando Brasil passa a presidência para o Paraguai.
Negociadores europeus estão no Brasil para reuniões em Brasília que buscam conciliar as mais recentes diferenças, que são exatamente sobre uma questão ambiental: os europeus impuseram novas exigências para fechar o acordo que provocou forte reação de Lula, que as considerou inaceitáveis.
Antes da eleição de Javier Milei para a presidência da Argentina, já havia a meta de fechar essa pendência até dezembro, para aproveitar que Lula no comando do Mercosul e o espanhol Pedro Sanchez, chefe de governo da Espanha, é presidente rotativo do Conselho Europeu, espécie de chefia de Estado do bloco europeu.
Como a Espanha tem muita influência nos três outros sócios, seria o momento ideal. Lula já havia dito, antes do "evento Milei", que se o acordo entre Mercosul-União Europeia não fechasse até dezembro, teria fracassado definitivamente.
— Depois de 22 anos, ninguém acredita mais — chegou a dizer, traduzindo uma percepção bastante generalizada.
A eleição de um candidato que propunha o fim do Mercosul e a adoção da "experiência chilena" - uma redução de tarifas incompatível com o bloco sul-americano - quase transformou a frase de efeito em premonição.
Lula correu para fazer contato, por telefone, com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia (equivalente à chefia de governo do bloco) e com Sanchez. Um dos objetivos foi marcar conversas paralelas em Dubai para aparar eventuais arestas que surgirem nas negociações técnicas. E aí veio a visita da futura chanceler da Argentina, Diana Mondino, com declarações de que o país quer o acordo com os europeus - o que significa necessariamente permanecer no Mercosul, mesmo sob Milei.
É bom lembrar que um anúncio de acordo pode ser feito sem que isso signifique, de fato, que algo tenha mudado. Foi o que ocorreu em 2019, quando houve comunicado oficial de entendimento, mas o comportamento ambiental do governo Bolsonaro acabou apontado como motivo de novo fracasso. E ainda que haja acerto de fato, não para uso político, para algo começar a acontecer de fato, será preciso que os termos sejam aprovados nos 31 parlamentos dos países envolvidos.