Já foi junho — também conhecido como este mês — já foram junhos de anos anteriores. Agora, dezembro de 2023 seria o prazo para concluir o acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia.
Foi nova data assumida pela líder do bloco, a belga Ursula von der Leyen, em sua passagem pelo Brasil na segunda-feira (12). Embora seja praticamente uma obrigação do cargo tentar fixar metas temporais para concluir processos longos, já foram tantas e tão descumpridas que esse tipo d sinalização perdeu a força.
Primeiro, é bom entender quem é Von der Leyen. Ela preside a Comissão Europeia (CE), que não é um tipo de comitê. A Comissão é o comando do bloco europeu, que tem integrantes — comissários — equivalentes a ministros e uma presidente que é chefe de governo. Como em regimes parlamentaristas — adotados pela maioria dos países da UE —, o chefe de Estado é o presidente do Conselho Europeu, que por sua vez reúne todos os líderes nacionais.
No Brasil, que não é parlamentarista, a mesma pessoa acumula as funções de chefe de Estado e de governo. Os vídeos do encontro dos dois líderes de mesma estatura de poder mostram certo desconforto — e não é para menos. Nas mais recente atualização dos termos do acerto, a União Europeia incluiu sanções para descumprimento de exigências ambientais já previsto nas leis do bloco.
A previsão de barrar importações de produtos provenientes de áreas desmatadas é anterior à capitulação do governo Lula à manobra do Congresso para esvaziar os ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas. Lula pediu "confiança". Ainda que Von der Leyen tivesse boa vontade - carimbou que o atual presidente "trouxe o Brasil de volta ao cenário mundial" (veja tuite abaixo) -, poderia ter respondido que há distância entre discurso e prática a olhos vistos. Talvez por isso, foi somente na noite de segunda-feira (12), em evento com empresários fora do Palácio do Planalto, que a presidente da CE falou em prazo:
— Agora estamos próximos da linha de chegada, o presidente Lula e eu nos comprometemos a concluir (o acordo UE-Mercosul), no mais tardar no fim do ano. Vai começar um novo capitulo de nossa relação comercial e de amizade.
E embora tenha reforçado o discurso ambiental, anunciou minguados 20 milhões de euros (R$ 105 milhões) em doação ao Fundo Amazônia. Ainda que seja uma contribuição "inicial", é menos que migalha ante o PIB de 14,5 trilhões de euros (US$ 15,7 trilhões) do bloco. Então, ou o compromisso com o fim do desmatamento é tão importante para a União Europeia que vale pôr em risco um acordo estratégico, ou merece migalhas. Um gesto é oposto ao outro.
No que interessa...
E se a contribuição para o Fundo Amazônica é praticamente simbólica, a presidente da Comissão Europeia anunciou investimento "de verdade" — 2 bilhões de euros (ou R$ 10,5 bilhões) — para a produção de hidrogênio verde no Brasil, como parte do esforço de redução da dependência de combustíveis fósseis no bloco. Cem vezes mais, porque nesse caso é interesse real e imediato. Para exportar hidrogênio verde, o Brasil precisa de floresta em pé.