Nesta quarta-feira (1º), o governo da Argentina considerou resolvida a escassez de combustíveis e a estatal YPF e as petroleiras privadas aumentaram os preços em cerca de 10%.
Mesmo assim, ainda há relatos de filas e até de insucesso em abastecer os veículos depois de longa espera.
A coluna recebeu um e-mail de uma gaúcha que está em Salta e não conseguiu encher o tanque, mesmo depois de várias tentativas. Como não recebeu autorização da leitora, não vai informar nome e detalhes, mas considerou oportuno compartilhar com leitores, especialmente os que avaliam visitar o país vizinho de carro neste período. Também recebeu relatos de brasileiros que estavam em Mendoza e conseguiram abastecer depois de enfrentar longa fila.
O aumento dos combustíveis foi possível porque na véspera, 31 de outubro, venceu o período de preços congelados depois da prévias. Para não pressionar ainda mais os preços, o governo argentino - como a coluna já observou, comandado virtualmente pelo ministro da Economia e candidato a presidente, Sergio Massa - voltou a adiar a aplicação de impostos sobre os combustíveis até fevereiro de 2024.
Massa ainda anunciou a fase 2 do chamado Plan Platita (algo como Plano Dinheirinho). Até segunda-feira (6) - a 13 dias do segundo turno - aposentados e pensionistas terão acesso a financiamento com juro baixo de até 600 mil pesos (na conversão que passe pelo dólar blue, ao redor de R$ 3 mil) para aposentados e pensionistas e até 1 milhão de pesos (pelo mesmo cálculo, cerca de R$ 5 mil) para trabalhadores registrados - na Argentina, há elevadíssimos índices de informalidade.
Os motivos da escassez
Mesmo sem solução à vista, já se conhecem as principais causas do desabastecimento, que tem ao menos três fatores objetivos - e um subjetivo.
Restrição a pagamentos: uma medida adotada pouco antes do primeiro turno, com objetivo de impedir que a falta de dólares se tornasse ainda mais visível no país submeteu as importações de combustíveis ao sistema que só libera os pagamentos mediante autorização do governo. Sem garantias que receberiam, os vendedores retiveram cargas.
Aumento de demanda: além da maior movimentação de argentinos, que se deslocam por cidades do país para votar, provocando aumento na demanda por gasolina, esse período do ano também é de início do plantio da safra de verão por lá também, o que faz subir o consumo de diesel.
Parada de refinarias: unidades nacionais de produção de combustíveis tiveram paradas de manutenção, o que ocorre periodicamente, mas desta vez coincidiram com os dois fatores acima de aumento de consumo.
Expectativas (esse é o subjetivo, que ao menos até agora não tem dados e fatos, apenas percepção): com as primeiras informações de que faltava combustível em alguns postos gerou uma demanda extra devido ao temor de desabastecimento.