As filas diante de postos de combustíveis que começaram a aparecer em várias cidades da Argentina na sexta-feira (27) - inclusive Buenos Aires - seguiram longas no final de semana.
No domingo, as empresas petroleiras que atuam no país emitiram um comunicado prevendo que "irá se normalizar nos próximos dias". Se serão nos "próximos" dois ou três, ou sete a 10, ou 15 a 30, não se sabe.
Entre as companhias que atuam nesse mercado na Argentina, está a brasileira Raízen, que tem acordo com a marca anglo-holandesa Shell para atuar nos dois países. Além das longas filas para abastecer veículos com gasolina (lá, chamada de nafta), há uma inquietação com a escassez de diesel (na Argentina, gasoil), essencial para o plantio da safra agrícola, previsto para os próximos dias.
No domingo, o ministro da Economia e candidato à presidência Sergio Massa tentou definir o que seriam "próximos dias" em um tom de ameaça:
— Se até terça ao meio-dia o abastecimento não estiver solucionado, na quarta não poderão tirar um navio de exportação.
Falta de combustível a 20 dias do segundo turno é um elemento literalmente inflamável no já tensionado ambiente econômico da Argentina. Adversário de Massa no segundo turno, o anarcocapitalista Javier Milei foi a um posto de gasolina no sábado, para dar bastante visibilidade ao problema. No domingo, depois da advertência do peronista, afirmou:
— Primeiro, controla preços, logo aparece o desabastecimento (...) e decide optar pela via violenta para forçar a oferta.
Embora o tom de Massa tenha de fato sido de ameaça, está longe de ser "via violenta". Milei havia moderado o tom nos dias que se seguiram ao primeiro turno, mas voltou a demostrarque não mede consequências nas declarações. A Argentina tem um triste registro histórico de protestos pela "via violenta". Em dezembro de 2001, houve 39 mortos em reação a restrições de uso de dinheiro, o chamado corralito, comparável ao sequestro da poupança no Brasil 10 anos antes. Até agora, é uma situação que segue longe do cenário.
Os motivos da escassez
Mesmo sem solução à vista, já se conhecem as principais causas do desabastecimento, que tem ao menos três fatores objetivos - e um subjetivo.
Restrição a pagamentos: uma medida adotada pouco antes do primeiro turno, com objetivo de impedir que a falta de dólares se tornasse ainda mais visível no país submeteu as importações de combustíveis ao sistema que só libera os pagamentos mediante autorização do governo. Sem garantias que receberiam, os vendedores retiveram cargas.
Aumento de demanda: além da maior movimentação de argentinos, que se deslocam por cidades do país para votar, provocando aumento na demanda por gasolina, esse período do ano também é de início do plantio da safra de verão por lá também, o que faz subir o consumo de diesel.
Parada de refinarias: unidades nacionais de produção de combustíveis tiveram paradas de manutenção, o que ocorre periodicamente, mas desta vez coincidiram com os dois fatores acima de aumento de consumo.
Expectativas (esse é o subjetivo, que ao menos até agora não tem dados e fatos, apenas percepção): com as primeiras informações de que faltava combustível em alguns postos gerou uma demanda extra devido ao temor de desabastecimento.