Não havia qualquer perspectiva de decisão diferente do corte de 0,5 ponto percentual no juro anunciado há pouco pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). A expectativa era de um recado no comunicado, depois do debate público sobre a meta de déficit zero aberta por ninguém menos do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E veio, mas sem mudar uma letra do recado anterior:
“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas".
"Persecução", como a coluna já explicou, vem de "perseguir", ou seja, o BC não está, desde a reunião anterior do Copom, afirmando que é preciso alcançar a meta. Mas que é importante mostrar que está correndo atrás do resultado.
Havia forte especulação jornalística e de mercado de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estaria “pregando no deserto” sobre a necessidade de entregar um resultado sem rombo em 2024.
Mas dois aliados nesse assunto estão no Copom: o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, virtual futuro presidente da instituição. Não é pouca coisa.
A estratégia foi não focar nem nas palavras, nem nos números de Lula, mas fazer de conta que não existe debate interno no governo para mudar a meta já definida e aprovada. Ou seja, Haddad está longe de estar só, apesar da resistência palaciana – não só do principal gabinete, mas de vários ao redor.
Outra expectativa era de que o BC divulgasse uma projeção de IPCA mais baixa para 2023, pela primeira vez dentro da meta para o ano, cujo centro é 3,5% neste ano, mas o teto vai a 4,75% com a margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. E também veio:
"As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência situam-se em 4,7% em 2023, 3,6% em 2024 e 3,2% em 2025".
Animados pela manutenção do juro nos EUA, a bolsa subiu 1,9%, e o dólar caiu 1,36%, para R$ 4,93, antes do anúncio da decisão, que saiu até mais cedo do que as mais recentes reuniões. O que sustentava a aposta consensual no corte para 12,25% era a combinação entre indicadores de inflação com “aberturas benignas” (dados parciais que sustentam preços mais comportados) e de atividade econômica enfraquecidos, para os quais a manutenção de juro alto é veneno.