O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
“Nós não vamos colocar uma meta. Quando a gente atingir, dobramos a meta”. Diferentemente do que expressa a frase de Dilma Rousseff, em agosto de 2015, Lula sabe qual é a meta. É zerar o déficit fiscal em 2024. A meta é essa porque seu ministro da Fazenda – e provável sucessor político (assim como Dilma um dia foi) –, Fernando Haddad a fixou dentro do arcabouço fiscal, aprovado em agosto. Ao contrário de Dilma, Lula não quer dobrar a meta inexistente, mas flexibilizar a que seu governo fixou.
Nas duas últimas semanas, o tema materializou o dilema que muitos antecipavam, caso do economista e professor a UFRGS, Marcelo Portugal. Em janeiro ele já dizia:
– Não há dúvida de que a última palavra será do Haddad, que dirá: Sim, Lula.
A ironia de Portugal ganhou contexto. Porém, na contramão do desejo verbalizado por Lula em alterar o déficit zero para preservar obras, a meta não só será mantida como defende Haddad, mas com a possibilidade de bloquear até R$ 23 bilhões em recursos do governo federal. O ministro que teve seu nome questionado antes mesmo do anúncio dá nova demonstração de credibilidade ao mercado, diante de uma encruzilhada.
É que manter a meta, como chancelou o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Danilo Forte (União Brasil-CE) não significa alcançá-la. Não alcançá-la significa disparar gatilhos instalados pelo próprio ministro e sua equipe econômica na nova âncora fiscal, dentre os quais, justamente limites para os investimentos (pretendidos por Lula) e reajustes salariais.
– É um falso Dilema. Se quer espaço para investir, é preciso reduzir o gasto – sacramenta o ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Alexandre Schwartsman.
No início dos debates sobre o tema Lula questionou durante um café da manhã em Brasília:
– Qual diferença entre 0,5% do PIB em déficit ou zerá-lo?
Mauro Rochlin, economista da FGV, responde:
– O governo pensa em gastar, mas não nos juros. O Brasil gasta em saúde R$ b40 milhões. Em educação, R$ 180 bilhões. Mas os juros consomem R$ 650 bilhões. Ou seja, mais do que se investe em saúde e educação juntas.