Depois de afirmar que a meta de déficit "não tem de ser zero", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se comprometeu publicamente com a estabilidade fiscal.
Mas uma imagem captada no mesmo evento - o 6º Brasil Investment Forum — BIF 2023, no Palácio do Itamaraty, na terça-feira, acabou colocando mais incerteza na equação fiscal do governo. A fotografia acima, que registra o abraço presidencial ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, capta não só o caráter assimétrico do afago como a desesperança no olhar do ministro.
Ao contrário do que se disse no dia seguinte à "bomba fiscal" de Lula, Haddad não é um ministro "pregando no deserto" e com discordâncias mesmo dentro da equipe econômica. Tem apoio no Banco Central, como ficou claro tanto no comunicado quanto na ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Além disso, ganhou reforço dos presidentes das duas casas legislativas, da Câmara e do Senado. Então, o olhar de desesperança parece ser mesmo destinado ao chefe do Executivo.
No mesmo dia da solenidade em que ocorreu o abraço entre Lula e Haddad, o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, deputado Danilo Forte (União-CE), confirmou que o governo avalia a possibilidade de pedir revisão da meta de déficit zero no próximo ano. Detalhou, ainda, que a posição foi definida pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, antagonista no colega da Fazenda nesse tema específico.
— Ele pediu um prazo para que até a próxima semana seja apresentado ou não a emenda que vai fazer a revisão da meta — afirmou Forte, acrescentando que Costa estaria esperando "uns anexos que a Fazenda ficou de apresentar".
Restou o olhar.
O que é déficit zero e por que é importante
A meta de déficit zero adotada pelo Brasil é um compromisso relacionado ao chamado "resultado primário", Isso quer dizer que o governo não vai gastar mais do que arrecada, sem considerar as despesas com a dívida pública. Significa que, ao não comprometer recursos que não tem (o que significa, na prática, gastar mais do que arrecada), não vai aumentar a dívida do Brasil. Ter déficit zero representa disposição de não elevar o já pesado endividamento público. Quanto maior a dívida, maior seu custo, o que dificulta a redução do juro.