O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
Os olhos do mercado amanheceram direcionados para o preço do barril de Petróleo. A abertura de um segundo front, entre Israel e o Hamas, em região produtora da commodity – a exemplo do que acontece entre a Rússia e a Ucrânia – tem potencial para reverter a trajetória de queda na cotação internacional do barril, que fechou sexta-feira em US$ 84,58, depois de atingir US$ 96,55 em 27 de setembro. O diretor da consultoria petroquímica Maxiquim, João Luiz Zuñeda, afirma que os países ainda em recuperação dos efeitos da pandemia, há três anos, terão o impacto inflacionário de uma segunda guerra em igual e curto intervalo de tempo.
Para o ex-superintendente de Abastecimento da ANP e economista-chefe da ES Petro, Edson Silva, é a especulação que guia os primeiros movimentos, mas esse componente só se sustentará se outros países entrarem no conflito do Oriente Médio.
É o caso do Irã (aliado do Hamas, que teve a retirada de barreiras comercias com os Estados Unidos e viu suas exportações crescerem), da Arábia Saudita (que negociava acordo com o rival histórico Israel) e do Egito (onde está o Canal de Suez, o início da rota mundial do petróleo e que já esteve no foco de disputas, como na Guerra do Yom Kippur, em 1973).
Nesse cenário, a Petrobras teria de repassar o custo do conflito para os derivados nacionais, a gasolina e o diesel, no primeiro teste extremo do novo modelo de preços da estatal brasileira. Anunciada em junho, para substituir a paridade internacional, adotada por seis anos, a ideia era ter flexibilidade para amortizar solavancos, exatamente como os esperados para essa semana.
Silva lembra que há gordura para queimar. Isso porque o preço da gasolina, quando colocadas na ponta do lápis, as remarcações aplicadas no ano, ficam 12,29% menores do que seriam com a regra da paridade internacional, por conta das possibilidades abertas pelo novo modelo.
– Deduzo que a Petrobras estava a ponto de aumentar a Gasolina em razão da escalada do barril, não acredito que o conflito chegue a outros países, mas nesse caso teria de queimar a gordura.
De acordo com João Luiz Zuñeda, o modelo de preços da Petrobras, pensado para reduzir o valor dos combustíveis, enfrentará viés de alta. É possível segurar até o ambiente especulativo retroceder, mas, caso se prolongue, “equilibrio” é a palavra para evitar que a estatal pague a conta.