Depois de trafegar acima de 1 mil pesos durante duas semanas, o dólar blue - principal tipo de paralelo na Argentina - ficou abaixo dessa barreira psicológica nesta quinta-feira (25): fechou em 970.
O que os jornais argentinos chamaram de "descompressão do pânico financeiro" teve razões econômicas e também políticas. Na véspera, o Banco Central da República Argentina (BCRA) comprou US$ 15 milhões no mercado de câmbio e acumula intervenções de US$ 352 milhões desde o dia seguinte à eleição, a última segunda-feira (23) até esta quinta-feira (26).
As intervenções foram possíveis por uma decisão tomada por pelo ministro da Economia e candidato à presidência, Sergio Massa, no dia seguinte à eleição, de permitir que exportadores internalizem dólares com um tipo de câmbio bem mais alto, chamado "à vista com liquidação", cotado a 867. Embora abaixo do blue, é 147,9% maior do que o oficial.
Na política, começa a se especular que os "radicais" se tornem decisivos na eleição à presidência, que será definida em segundo turno no dia 19 de novembro. O apoio de Patrícia Bullrich, ex-candidata à presidência por Unidos por el Cambio, a Javier Milei provocou uma divisão na coligação e até dentro de seu próprio partido, o PRO (Proposta Republicana).
Como resultado, os "radicais", como são chamados na Argentina os integrantes do partido de centro Unión Cívica Radical, oscilam entre a neutralidade e o apoio a Sergio Massa, candidato peronista. Além da ironia histórica - radicais e peronistas eram os polos opostos da disputa política argentina até a crise de 20o1, quando o presidente "radical" Fernando de la Rúa fugiu da Casa Rosada de helicóptero.
Um eventual apoio dos "radicais de centro" pode reforçar a ideia de um governo de união nacional, em contraponto às excentricidades de Milei. O terceiro partido da coligação, chamado Coalizão Cívica, já anunciou que se manterá neutro. Mesmo como o apoio de Bullrich, no mercado financeiro há avaliações de que Massa seria mais confiável. Mesmo integrando o governo que tem Cristina Fernández de Kirchner como vice-presidente, Massa não era identificado com o kirchnerismo até aceitar o Ministério da Economia - e, atualmente, o comando do país na prática.