O Rio Grande do Sul voltou a ser atingido nesta semana por um volume excessivo de chuvas. Até agora, foram registradas 21 mortes - número nunca antes visto como resultado de um fenômeno climático - sem contar alagamentos e estragos estruturais em diversas cidades, incluindo a destruição completa de casas e pontes.
Antes excepcionais, eventos climáticos extremos como esse têm se tornado mais intensos e mais frequentes devido à aceleração da crise climática nos últimos anos. Em meados de junho passado, ou seja, a menos de apenas três meses, o Estado também foi atingido por um ciclone, que deixou 16 mortos em oito municípios.
Tragédias como essas evidenciam que a crise climática é mesmo uma emergência do presente, e não uma preocupação eventual para o futuro. Como destacou em entrevista à coluna a chefe da Secretaria Nacional de Mudança do Clima, Ana Toni, nós, gaúchos, somos exemplos práticos disso, seja pelos sequência de ciclones e chuvas excessivas, seja pelos períodos de estiagem, também mais longos e mais frequentes.
O que está ocorrendo é provocado pelo El Niño? Sim, é a provável causa primária, que ainda nos reserva muitos desafios nos próximos meses. Mas as perturbações atmosféricas produzidas pelo "fenômeno natural" se intensificaram, como vêm advertindo os cientistas do Painel do Clima da ONU. Ondas de calor, inundações e outros eventos extremos aumentarão de forma "sem precedentes" em sua magnitude, frequência, localização ou época do ano em que ocorrem", avisou o IPCC há um ano. Em março passado, aos habituais alertas, somaram uma perspectiva: ainda dá tempo de salvar o planeta.
Diante da aceleração da crise, também é preciso acelerar as soluções para combatê-la, como advertiu em entrevista recente à coluna o australiano John Nairn, consultor sênior em calor extremo da Organização Meteorológica Mundial (OMM), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU). Adaptar as cidades para melhor absorver os efeitos de eventos climáticos extremos é fundamental, com prioridade para os socialmente mais vulneráveis, que sofrem antes e sem anticorpos esses impactos.
Como já definiu António Guterres, secretário-geral da ONU, o planeta entrou na era da "ebulição global". A mudança do clima, causada pelas ações humanas, revela-se implacável em cada oportunidade que tem de mostrar a sua força. A crise climática não chega pedindo licença e batendo na porta — muitas vezes, já leva a casa inteira, arrastada em uma enchente. Não é um risco futuro, é uma emergência do presente. Ignorar sua existência e suas causas apenas reforça suas consequências, que são impossíveis de serem ignoradas.
Se puder, por favor, ajude as vítimas da chuva excessiva no Rio Grande do Sul. Clique aqui para saber como.
* Colaborou Mathias Boni