A sabedoria popular dá o traçado: "É melhor prevenir do que remediar". A ciência sinaliza: "Há indício que eventos como os atuais serão cada vez mais frequentes". Algumas explicações estão em reportagem de Marcelo Gonzatto.
Enquanto os estragos são contabilizados e as famílias choram a perda de seus entes em uma das maiores tragédias climáticas do RS, a coluna procura, ainda que na frieza dos dados, por explicações. E, nesse caso, números não são lágrimas, mas também sabem saltar aos olhos.
Relatório da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) apontava, em março deste ano – portanto antes da enchente que atingiu 40 municípios com 16 mortes em junho – que os prejuízos estruturais ocasionados por eventos desta natureza no país somavam R$ 401,3 bilhões nos últimos dez anos. O problema: em igual período, a destinação orçamentária para prevenção de desastres foi de apenas R$ 64,2 bilhões.
Na ponta do lápis, gasta-se R$ 337,1 bilhões a mais para "remediar". Isso significa que a prevenção contou com recursos seis vezes inferiores aos que demandariam as perdas quando consolidadas as tragédias anunciadas nas áreas de risco, entre 2013 e 2023.
O mesmo relatório com os dados do RS atualizados, obtidos em primeira mão pela coluna, crava: R$ 1,3 bilhão em danos materiais nos 87 municípios atingidos pela chuva – 79 com decretos de emergência. Ou seja, somente um, dos dois episódios ocorridos no Estado em 2023, consumiria mais do que a totalidade da rubrica federal para desastres, neste ano, fixada em R$ 1,2 bilhão, valor 89,5% menor do que há dez anos (R$ 11,5 bilhões).
- Os impactos dos desastres no Brasil são alarmantes e a forma como vêm aumentando traz muita preocupação. É fundamental que haja uma cooperação entre União, Estados e Municípios para encontrar soluções, mas infelizmente os gestores municipais estão praticamente sozinhos, na ponta, para socorrer a população. Os desastres causam danos incalculáveis e, muitas vezes, irreversíveis, e não há apoio para prevenção nem investimentos - comenta Paulo Ziulkoski, presidente da CNM
Para o poder público das cidades afetadas, os cálculos indicam mais de 8 mil casas danificadas, R$ 175 milhões em prejuízos habitacionais. Comércios locais, com R$ 423,8 milhões em perdas. Agricultores com R$ 229,7 milhões em avarias e pecuária R$ 93,4 milhões. A assistência médica demandará no mínimo R$ 2,9 milhões, assim como os transportes, R$ 20,3 milhões.
Em cada cifra e percentual existem histórias de famílias que perderam todos os bens, cidades destruídas e setores arrasados pela enxurrada. Outra má notícia: a lista não vai parar de crescer enquanto o planejamento preventivo não for alçado ao status de relevância que merece.