Ainda unindo esforços para salvar vidas e permitir a limpeza das cidades mais afetadas pelas enchentes, o governo do Rio Grande do Sul inicia um plano para construir pontes e estradas destruídas após as tempestades da última semana. A estimativa é que o aporte de recursos para investimento na malha rodoviária seja de R$ 100 milhões - sendo cerca de R$ 15 milhões apenas para a construção da ponte que liga Nova Roma do Sul a Farroupilha, destruída após a cheia do Rio das Antas, na última segunda-feira (4).
O assunto foi discutido em um encontro entre prefeitos da região com o governador Eduardo Leite (PSDB), realizado nesta sexta-feira (8), em Bento Gonçalves. Ao todo, 23 chefes do Executivo de municípios da Serra levaram reivindicações ao chefe do Executivo estadual, a maioria relacionada a questões de infraestrutura e logística. Leite anotou as demandas e disse que o governo do Estado, neste momento, avalia quais medidas serão necessárias para reconstruir os municípios atingidos pelas enchentes e a forma como buscará os recursos federais.
— Temos pontes estaduais, municipais, tem os estragos nas vias, cabeceiras de pontes, trechos de rodovias que foram rompidos. Estimamos que seja necessário o aporte de R$ 100 milhões para reconstrução da infraestrutura rodoviária. E o Estado está se colocando à disposição dos municípios para ajudar também na reconstrução das pontes municipais e buscar os recursos com o governo federal. É quem mais tem capacidade, possibilidade de recursos — disse o governador.
Aos prefeitos da região, Leite disse que espera que a burocracia não seja um empecilho para que os recursos cheguem de forma rápida aos municípios e que o dinheiro auxilie na recuperação das comunidades.
— Sensibilidade existe e recursos não faltam e não faltarão. O mais importante do governo federal agora é aliviar a burocracia. Não podemos nos deixar sermos vencidos pela burocracia. É relatório, é plano de trabalho… tudo isso é importante fazer, mas há um colapso nas cidades, que não têm mais estrutura. Os servidores das prefeituras que deveriam preencher esses relatórios foram atingidos nas respectivas casas. Há uma dificuldade de atender a burocracia quando há colapso na estrutura administrativa das cidades. Vamos precisar que o governo federal esteja na mesma página que nós, tirando burocracia do caminho e sumariamente a gente conseguindo encaminhar recursos para reconstrução das cidades — reforçou.
No encontro em Bento Gonçalves, os prefeitos pediram agilidade na construção de pontes destruídas pela chuva. Além da ligação entre Nova Roma do Sul e Farroupilha no Rio das Antas, pela RS-448, há preocupação com a ausência da ligação entre Cotiporã e Dois Lajeados e entre Serafina Corrêa e Nova Bassano. Além da ponte que liga Bento Gonçalves a São Valentim do Sul, na RS-431, e também nos acessos entre os municípios como em Guaporé com Arvorezinha e Anta Gorda.
Sem essas ligações, o acesso dos moradores dos pequenos municípios a serviços de saúde e educação estão prejudicados e também há receio com o escoamento da produção e para abastecimento.
— Toda a safra da uva passa pela ponte no distrito de Santa Bárbara e não podemos ficar sem esse importante acesso agora que a colheita se aproxima — reivindicou o prefeito de São Valentim do Sul, Geri Ângelo Macagnan.
Liderando o município da Serra mais atingido pelas chuvas, a prefeita de Santa Tereza, Gisele Caumo, disse que a cidade enfrenta o pior momento desde que foi emancipada. Segundo ela, 80% do município foi destruído pela força das águas, não há estrutura nos serviços públicos e 70 famílias não têm onde se abrigar porque perderam as casas onde moravam.
— Fui pessoalmente monitorar o rio na manhã de segunda-feira e o nível crescia 36 centímetros por hora. Perto do meio-dia, subiu para um metro de 60 centímetros. Duas horas depois, a cidade estava tomada pela água. É muito triste, estou há três dias sem ver a minha filha porque tenho uma cidade inteira para cuidar no seu pior momento — relatou a prefeita, bastante emocionada.
Medidas em avaliação
Ainda na reunião em Bento Gonçalves, o governador Eduardo Leite disse que o Piratini prepara um programa de recuperação para fornecer uma linha de financiamento por meio do Banrisul, Badesul e BRDE para famílias atingidas pelas enchentes. O objetivo é que as comunidades afetadas tenham acesso aos recursos para reconstruir casas e estabelecimentos comerciais e tenha um prazo de carência para começar os pagamentos.
— Muitos municípios tiveram as áreas centrais destruídas e pequenos comerciantes foram afetados. Meu pedido é que os fornecedores de pequenos e médios comerciantes, se puderem, evitem a cobrança neste momento. Ajudem a repor o estoque ali na frente. São pessoas aflitas, que não têm como pagar as contas delas amanhã. Tenho certeza que a solidariedade virá nesse caminho também — explica.
Leite disse também que haverá empenho de recursos extras para a saúde e aumento nas horas de trabalho para a utilização de máquinas e equipamentos das prefeituras para auxiliar na limpeza das cidades. Sobre as doações, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul relatou que há caminhões parados com doações porque não há onde armazenar os materiais enviados pelas demais cidades.
— A solidariedade nos sensibiliza muito, mas é um desafio do ponto de vista logístico fazer o armazenamento, a classificação e a destinação. A primeira coisa que pedimos para a população é que não se dirijam até os municípios mais afetados, como Roca Sales, Muçum e Santa Tereza. Há um esforço muito grande para limpeza, reconstrução e reorganização. Pessoas demais circulando acabam gerando conflito, estresse e é um problema — afirma o governador.