Chegar e partir de Nova Roma do Sul é possível apenas por um único caminho desde a última segunda-feira (4), quando a tradicional ponte de ferro que liga a cidade a Farroupilha, pela RS-448, foi destruída pela cheia do Rio das Antas. Esse era o principal e mais curto trajeto dos moradores de Nova Roma do Sul até as maiores cidades da região. Os 3,5 mil habitantes do município da Serra começam a se adaptar a uma nova rotina, calculando prejuízos e buscando alternativas para escoar a produção e acessar os serviços de saúde e de educação.
A única forma dos moradoras saírem da cidade é pela RS-448 e pela RS-437, por Antônio Prado, e pela RS-122, em Flores da Cunha. A balsa que liga Nova Roma do Sul a Nova Pádua foi suspensa também pelos efeitos da forte chuva que atingiu o Rio Grande do Sul e que levou morte e destruição a cidades gaúchas. Os cabos que dão sustentação a balsa se romperam e a previsão é que o serviço fique inoperante até a próxima semana.
Por isso, o principal desafio, nesse momento, é garantir que a comunidade possa receber um rápido atendimento médico quando precisar. Sem ter hospital e com um único posto de saúde, a principal referência é o Hospital São Carlos, em Farroupilha. Por semana, 10 pacientes são encaminhados pela ambulância da prefeitura até o município vizinho para atendimento de média e alta complexidade, sem contar quem tem consultas médicas com especialistas.
Antes, pela ponte de ferro, os moradores percorriam cerca de 45 quilômetros para chegar em Farroupilha - trajeto de cerca de 35 minutos. Agora, por Antônio Prado, o caminho aumentou para 100 quilômetros, ampliando ainda o tempo de deslocamento.
Distância que preocupa a podóloga e agricultora Daiane Propodoski Ferreira, 32 anos, grávida de oito meses. O parto de Maria Clara está previsto para o início de outubro. Daiane é mãe também de Alice, seis anos.
Na época, a podóloga recorda que sentiu as contrações da chegada da primeira filha em casa, foi até o posto de saúde de Nova Roma do Sul e, após, encaminhada de ambulância até Farroupilha. Um trajeto rápido e que logo a colocou em atendimento com especialistas.
Agora, esperava contar com o mesmo apoio, mas não sabe como será.
— Ao mesmo tempo que a gente lamenta muito tudo que aconteceu, eu fico apreensiva porque não sei se vou precisar de atendimento rápido ou não na hora de ganhar a minha nenê. E tempo é vida, tenho medo de ficar na estrada — conta.
Para os estudantes que saem de Nova Roma do Sul para estudar em Caxias do Sul, a semana foi de adaptação. O percurso que antes era feito em uma hora e meia agora se estendeu para duas horas e 15 minutos. Ao todo, são 58 alunos que utilizam o transporte oferecido pela Associação dos Estudantes Universitários da cidade em parceria com a prefeitura de Nova Roma do Sul.
— São 70 quilômetros a mais todos os dias. O retorno à noite ficou mais cruel porque tem estudantes chegando de madrugada, sendo que no dia seguinte precisam acordar e sair pra trabalhar. Tem quem pense em parar de estudar porque vai ser muito difícil ficar assim — conta Andréia Maria Rossetti, 21 anos, estudante de Marketing na Universidade de Caxias do Sul (UCS) e presidente da associação.
Ruim para quem mora e também para quem trabalha na cidade. O servidor Alexandre Bet, 49 anos, reside em Farroupilha e bate o ponto todos os dias na prefeitura de Nova Roma do Sul. Agora, com o novo e mais longo trajeto, precisa sair de casa uma hora mais cedo para chegar no trabalho no horário.
— Com a ponte, eu levava cerca de 40, 45 minutos. Hoje, foi o primeiro dia que fiz o trajeto Caxias, Flores e Antônio Prado e levei uma hora e 50 (minutos). É um trajeto longo, movimentado, que se torna muito cansativo — define.
Preços podem aumentar e escoamento da produção é prejudicado
Nova Roma do Sul é o segundo maior produtor de perus do Estado, segundo a prefeitura. Assim que alcançam o peso ideal, as aves são levadas a Caxias do Sul para o abate. Antes disso, a ração dos animais vem de Garibaldi. Insumos que passavam pela ponte e que agora precisam ser transportados pelo único trajeto disponível.
— Tudo requer mais tempo e isso impacta no custo. As entregas podem atrasar porque está mais longe. Ontem (terça), o caminhão com ração saiu de Garibaldi depois do meio-dia e chegou quase no fim da tarde — conta o produtor Rodrigo Vansin, criador de perus há 20 anos. No posto de gasolina da cidade, ainda há incerteza se o preço do combustível vai aumentar, já que o frete será impactado.
O responsável pelo estabelecimento, Gladmir Favero, solicitou a chegada nesta quarta-feira (6) de um caminhão com 20 mil litros de combustível temendo atraso nos próximos dias. Normalmente, um veículo com 15 mil litros chega na cidade a cada dois ou três dias.
— Ainda não sei como vai ser. Fiz o pedido para a distribuidora, vão entregar hoje (quarta), mas não sei o quanto o frete vai aumentar e o quanto vai pesar. A gente lamenta muito tudo isso. O fluxo de visitantes vai baixar muito, o que é ruim pra todo mundo — avalia.
Quem também lamenta os efeitos da chuva em Nova Roma do Sul é a comerciante Jandira Silvestre Volpini, 67 anos. Ao lado do esposo, Claudino Bin, eles são responsáveis há três décadas por uma lancheria localizada próximo da antiga ponte, na divida com Farroupilha. Todos os dias, entre cinco e 10 pessoas eram atendidas, número que subia para 50 nos finais de semana. Desde segunda-feira, uma ou duas pessoas compram alguma coisa no estabelecimento, que permanece aberto.
— Não passa ninguém. Sempre tinha um pessoal que parava aqui, os motoristas dos caminhões puxando as aves, principalmente. A gente fica triste, é o nosso sustento — conta ela, que também mora próximo ao local.
Jandira se emociona ao lembrar da cheia do rio, que levou a ponte e também destruiu uma estrutura para churrasco e lazer que ela instalou às margens. Os comerciantes foram orientados pela prefeitura a deixar o estabelecimento devido ao risco de alagamento.
— A água chegou no topo do barranco. Nunca vi nada parecido — relembra.
Prefeitura busca medidas provisórias antes de solução definitiva para a ponte
Ainda não há um prazo de quando Nova Roma do Sul será novamente ligada a Farroupilha por uma ponte. De acordo com o prefeito Douglas Pasuch (PP), a construção da nova estrutura está estimada em R$ 15 milhões. A responsabilidade de manutenção da rodovia é do Estado e, segundo o prefeito, o governador Eduardo Leite (PSDB) garantiu que a demanda receberá atenção.
— Nesse momento, os esforços estão concentrados em salvar vidas e auxiliar quem ainda sofre com os efeitos da chuva. Depois, vamos discutir a logística e o que foi impactado em termos de infraestrutura. O governo federal também se colocou à disposição. Estamos procurando o Exército e fazendo medições do pilar para colocar uma estrutura provisória — explica ele, referindo-se a medidas que permitam ao menos o trânsito de veículos leves e médios, principalmente pensando na assistência em saúde dos moradores.
Encontros com os moradores também serão realizados para atualizar a comunidade sobre os próximos passos. O escoamento da safra da uva, na próxima colheita, também preocupa o município.