O feriado do dia 7 de setembro (Independência do Brasil) atraiu grupos de voluntários da Serra para Santa Tereza, município de 1,7 mil habitantes ao lado de Bento Gonçalves. A cidade ainda está no início da reconstrução após a cheia do Rio Taquari que devastou a comunidade na noite de segunda-feira (4). De acordo com a Defesa Civil, são pelo menos 50 casas destruídas e mais de 380 pessoas atingidas. Até o momento, o corpo de um homem, ainda não identificado, foi encontrado no interior do município.
O forte movimento na quinta já era notado na entrada da cidade, pela RS-444. Uma fila de veículos, que tinha carros de passeio, caminhões e máquinas, acumulava-se. Funcionários da prefeitura organizavam o fluxo, ordenando que os caminhões e as máquinas pudessem passar e os voluntários para mão de obra conseguissem estacionar do lado de fora e entrar a pé.
No centro de Santa Tereza, o cenário ainda era de destruição, mesmo que sem a presença da água do rio, que chegou ao nível de 23 metros na segunda. Em cada quadra, uma história diferente sobre a noite de terror era relembrada. Essas histórias misturavam-se com a esperança de voluntários que erguiam entulhos, tiravam móveis estragados ou distribuíam lanches para os trabalhadores. Muitos, como Jeancler Dal Castel, 26 anos, eram de Bento e esperam ver a cidade reconstruída em breve.
— Temos um grupo de amigos e nos reunimos porque temos que ter a empatia pelo próximo, mostrar nosso desempenho e reconhecimento pelo próximo. Sabemos que é triste, mas com o empenho de cada um vamos ajudar a reconstruir — afirma Dal Castel, que foi com quatro amigos para Santa Tereza.
Entre os voluntários também podia se ver pessoas com camisetas de grupos de aventureiros, escoteiros ou de empreendimentos da região. Soldados do Exército seguiam na ruas de Santa Tereza para ajudar na limpeza. Agentes da Polícia Civil e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) também ajudavam, inclusive ao lado de parentes.
Esse abraço da comunidade é bem recebido pelos moradores locais, como o motorista Rudinei Schmidt, 55, que mora há 30 anos em Santa Tereza.
— Muito pessoal de fora. O pessoal é nota 10. Veio muita gente com trator para ajudar, ontem tinha mais de 30 tratores. O pessoal de empresas também, e de prefeituras com caminhão-pipa. Pessoal está de parabéns. A comunidade agradece. A tragédia está aí, mas estamos vivos — agradece o motorista.
O município da Serra segue sem energia elétrica e água potável. Na quinta, funcionários da Rio Grande Energia (RGE) eram vistos em diversos pontos instalando postes ou colocando uma nova fiação. Sem a energia, não há como os poços da cidade funcionarem.
Enquanto isso não ocorre, cidades vizinhas ajudam. Na manhã de quinta, a prefeitura de Caxias do Sul, representada pelo prefeito Adiló Didomenico e pelo secretário de Segurança Pública e Proteção Social, Paulo Roberto Rosa da Silva, foi ao município para levar 22 caixas com copos de água e verificar o que era necessário. No primeiro momento, dois caminhões-pipa e uma caminhonete do Samae com água potável e uma caminhonete com 8 mil litros de água não potável foram enviados a Santa Tereza para abastecer residências e o salão paroquial, onde doações são armazenadas, e para auxiliar na limpeza da cidade.
— Nós viemos aqui dar um abraço na prefeita Gisele Caumo e ao povo de Santa Tereza. Viemos ver também o que eles precisam. Já identificamos a necessidade de água potável e também que vamos incentivar uma campanha em Caxias de material de construção e financeira — declara Adiló, que reúne-se na sexta (8) com prefeitos da região para debater novas ações de apoio ao município.
Número pode subir
De acordo com a assessoria da prefeitura de Santa Tereza, o levantamento de residências destruídas e pessoas atingidas ainda continua. Defesa Civil e Exército ainda tentam visitar as localidades do interior do município, como na Linha José Júlio. Nesses pontos, como presenciado pela reportagem, também houve forte devastação.
Doações
De acordo com a prefeita Gisele Caumo, o município recebeu uma grande quantidade de alimentos e produtos de limpeza, que inicialmente são suficientes. A prefeitura inicia o levantamento do material necessário para reconstrução e em breve iniciará campanha para receber a doação de materiais. Uma conta em nome do município também será aberta para o recebimento de recursos de pessoas e empresas que queiram ajudar.
Orientação para quem quer ser voluntário
De acordo com a prefeita, quem quiser ajudar com a mão de obra pode ir para a cidade, mas deve atentar-se a estacionar do lado de fora. Há máquinas e caminhões trabalhando na limpeza de Santa Tereza, assim um fluxo grande de veículos dentro do município atrapalha a movimentação.
Para doações, os voluntários devem direcionar-se ao ginásio de esportes do município, que fica na própria RS-444. Nesses casos não há a necessidade de entrar no município. Funcionários da prefeitura ou policiais da Brigada Militar (BM) estão fornecendo orientações.