Na visita brasileira à Argentina, o aceno foi de um mecanismo de pagamento alternativo. No encontro na China, o assunto foi o drible ao dólar. Na visita feita pelo presidente argentino, Alberto Fernández, ao Brasil, foi aventado um fundo de financiamento para exportadores brasileiros com negócios com o país vizinho. E o que pensam os exportadores?
— Com base nos dados, não precisa — ponderou à coluna José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Os dados aos quais se refere são os da balança comercial entre os dois países em abril. As exportações brasileiras cresceram de forma inesperada: 38,3% em valor e 26,6% em quantidade. Enquanto isso, as importações nacionais caíram 8,8% em valor e 18,7 % em quantidade.
— Olhando para esses números, parece que o país em crise é o Brasil, não a Argentina — ironiza.
A alta é surpreendente porque a Argentina, que já enfrentava escassez de dólares, enfrentou uma seca - um problema em comum com o Rio Grande do Sul - que afetou as exportações de soja que garantiriam um abastecimento básico de divisas. Essa situação já fez com que o país passasse a negociar com a China em yuans e, agora, espera uma "ajuda" do Brasil. Na visão dos argentinos, já está demorando (clique aqui para saber mais).
Sobre o mecanismo, Castro diz que os exportadores brasileiros sabem muito pouco. Em tese, uma empresa brasileira que queira vender à Argentina e tenha receio de não receber poderia fazer financiamento de 180 dias em um banco - possivelmente, o BNDES. Entregaria a mercadoria, e ao importador argentino caberia quitar o empréstimo.
Os maiores riscos, nesse caso, seriam um calote desse cliente ou uma maxidesvalorização do peso. Aí entraria o Fundo de Garantia às Exportações (FGE), que pagaria ao banco e depois executaria as garantias dadas pela Argentina. Uma das exigência seria de que essas garantias fossem negociadas facilmente, por isso há preferência de que fossem valores ou bens fora da Argentina - preferencialmente, em Nova York, Londres ou até no Brasil.
— Será que o exportador quer isso? Se gerar custo, não interessa — pergunta e responde Castro.