A pergunta do título entrou no repertório dos agentes econômicos desde a quebra do Silicon Valley Bank (SVB), da Califórnia, na sexta-feira (10). No domingo, foi a vez da falência do Signature Bank, de Nova York, e do anúncio de medidas preventivas do governo dos Estados Unidos.
Essa tensão estava começando a serenar quando o Credit Suisse admitiu, na terça-feira (14), "debilidades significativas" (não lembra um episódio nacional?) em seus balanços e controles internos nos últimos dois anos. No dia seguinte, as ações derreteram 24,24% e o governo da Suíça foi obrigado a socorrer a segunda maior instituição financeira do país.
A confissão do Credit Suisse foi provocada por questionamento da SEC, a xerife do mercado de capitais nos Estados Unidos, onde o banco também opera, e antecedeu os casos do SVB e do Signature. E o Credit Suisse está no radar de risco desde 2021, quando quebrou a Archegos Capital Management, que atuava com o banco suíço e provocou perda de US$ 5,5 bilhões em investimentos.
Então, primeira consideração importante: os problemas entre os bancos americanos e o suíço são apenas coincidentes no tempo, sem relação de causa e efeito entre as instituições. O que existe em comum é um cenário que, como definiu Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, afeta os "organismos mais debilitados": a elevação do juro básico em todo o mundo.
Isso é importante para diferenciar o que ocorreu em 2008 a partir da quebra do Lehman Brothers da nova onda de problemas em bancos. Embora esse tenha passado a ser o "marco zero" da crise, tudo começou, de fato, com um socorro público, o do Bear Stearns. Quando o Lehman se deixou ir, confiante na proteção estatal, o governo recolheu a rede. Errou, porque era um banco que representava risco sistêmico, ou seja, cuja quebra afetava todos os demais. Era muito grande para quebrar (too big to fail, frase que marcou essa época).
O Credit Suisse também é too big to fail. Depois de 2008, existe uma listade "bancos sistêmicos" elaborada pelo Comitê de Supervisão Bancária de Basiléia e revisada no ano passado. São 33 instituições, entre as quais está o Credit Suisse. Nesta quinta-feira (16), as ações do banco se recuperam das perdas da véspera, alentadas pelo empréstimo de 50 bilhões de francos suíços (equivalentes a R$ 285 bilhões) do Banco Central da Suíça. E o Banco Central Europeu (BCE) manteve o plano de elevar o juro básico em 0,5 ponto percentual.
Não falta quem veja nessa aparente coincidência sinais mais graves. O profeta da crise de 2008, Nouriel Roubini, já fez uma ironia, dizendo que o Credit Suisse pode ser, além de too big to fail, too big to bail, ou seja, grande demais para ser resgatado, porque o Banco Central da Suíça tem poder de fogo limitado. Pode não haver relação de causa e consequência direta entre os bancos em dificuldades, mas o produto mais valioso das instituições financeiras não é nem o dinheiro que movimentam, é a confiança de seus clientes. É esse o ativo a ser preservado para evitar uma reprise de 2008.
Para ilustrar o tamanho das interrogações que os casos provocam, o todo-poderoso Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de fundos do mundo, reagiu com uma pergunta ao caso americano na carta aos investidores enviada na quarta-feira (15), antes que o Credit Suisse entrasse no radar: "O preço do dinheiro fácil: o dominó está começando a cair?". E respondeu com a humildade que todos devemos ter nesse momento: "Não sabemos ainda quais são as consequências do dinheiro fácil e das mudanças regulatórias nos bancos regionais dos Estados Unidos".
Curiosidade: até dezembro de 2021, o presidente do conselho de administração do Credit Suisse no Brasil era Ilan Goldfajn, que foi para o cargo depois de presidir o Banco Central (BC). Por indicação do governo anterior, hoje Goldfajn preside o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).