Primeiro, foi a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) nos Estados Unidos - na verdade, um banco menor já havia quebrado poucos dias antes, sem fazer tanto ruído. Agora, quando a turbulência nos EUA parecia amainar, o tombo nas ações do tradicionalíssimo Credit Suisse espalha nova onda de aversão ao risco no mundo.
— Na Europa, os bancos estavam com dificuldade de obter retorno há muito tempo. Então, de certa forma, parte do sistema estava com imunidade comprometida. O problema global de crédito bate nos organismos mais debilitados — avaliou Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú em videoconferência com jornalistas na manhã desta quarta-feira (15).
Mesquita lembrou que, embora não esteja na zona do euro, o Credit Suisse é muito ligado a bancos europeus. A instituição já frequentava o noticiário financeiro especializado há alguns meses. Conforme dados da Bloomberg, um seguro contra calotes desse banco custa 18 vezes mais do que o do também suíço UBS e nove vezes acima do alemão Deutsche Bank, que também vinha aparecendo nos radares de risco.
O economista-chefe do Itaú observa que o sistema financeiro americano é "muito diferente de quase todos os lugares do mundo", com grande quantidade de bancos regionais de grande porte - caso do SVB - , dado o tamanho e a riqueza da economia dos EUA. Entre os europeus, mais concentrados, a inquietação recai sobre os gigantes.
— Os bancos na Europa já vinham com uma fragilidade crônica. Nessa turbulência, estão sentido mais. É o mesmo que ocorre com os países nesses momentos. O contágio ocorre quando há algum fundamento fraco. O mesmo se aplica hoje no caso dos bancos.
No Brasil, sustenta Mesquita, dados do mercado "não mostram crunch", ou seja, queda aguda da oferta de financiamento. Lembra que o mercado financeiro espera expansão do crédito de 8% neste ano, depois do aumento de 14% em 2o22.
— Por enquanto, é mais um risco a monitorar do que algo concreto. Se esses episódios acelerarem a transmissão, isso altera a expectativa de inflação. A gente observa que não houve revisão, até agora, dos planos de crescimento das carteiras (de crédito) dos maiores bancos — interpreta.
Cauteloso, Mesquita argumenta que não vê, até agora, motivos para que o Banco Central (BC) antecipe o corte de juro no Brasil. Pondera que a inflação projetada para o final do ano pela instituição é de 6,1% - muito acima do teto da meta. Mas admite que um bom marco fiscal pode ajudar:
— Menos incerteza fiscal pode reduzir o prêmio de risco e a volatilidade da moeda, o que melhora a perspectiva inflacionária, o que favorece o cenário de corte, mas ainda temos inflação elevada, com expectativas bem distantes da meta. Com o cenário global mudando, essas coisas podem se alterar, mas é preciso ter cuidado para não se antecipar e errar, como ocorreu em 2011 (quando o temor do impacto da crise europeia fez o BC cortar a Selic inesperadamente e a inflação recrudesceu).