Uma situação que vinha sendo acompanhada com inquietação acabou confirmando os temores: o Silicon Valley Bank (SVB), que marcou época por financiar algumas das big techs, quebrou.
É o primeiro caso depois da série de quebras durante a crise das hipotecas de 2008. O episódio vai acentuar a preocupação com a crise de crédito nos Estados Unidos e no resto do mundo, em boa parte fruto da brusca elevação de juros em vários países - inclusive no Brasil.
Com a quebra do banco, cerca de US$ 175 bilhões em depósitos de clientes, que incluem alguns dos maiores nomes do mundo da tecnologia, passam para a guarda da Federal Deposit Insurance Corporation (Corporação Federal de Seguro de Depósitos), agência independente criada para manter a estabilidade do sistema financeiro americano e a confiança do público nos bancos. Mas é óbvio que um fracasso desse tamanho terá impacto.
O colapso ocorreu apenas dois dias depois que o SVB começou a tentar levantar recursos de forma pública. Havia especulações sobre uma possível venda para um investidor que pudesse capitalizar o banco, mas aparentemente não houve tempo. Na quinta-feira (9), já havia ocorrido uma forte queda - para padrões locais - na bolsa de Nova York, com grandes perdas com ações de bancos. Como o SVB era o "banco do Vale do Silício", financiava muitas startups, inclusive brasileiras, que podem ser prejudicadas pela quebra.
À coluna, Sandro Cortezia, fundador e CEO da Ventiur, que atua como aceleradora de startups, relatou que a empresa ainda está "tentando entender o que aconteceu", mas já adianta que, ao menos nesse primeiro momento, o impacto nas empresas nacionais é muito pequeno:
— Talvez tenha efeito em grandes empresas de tecnologia que tinham operações com o banco. É claro que uma notícia como essa é sempre ruim e abala, pois põe em xeque o trabalho sério de muitas pessoas. Aparentemente, o banco enfrentou problemas de administração diante de uma realidade de juros altos e escassez de investimentos.
No Brasil, como a coluna já relatou, também existe preocupação com uma eventual crise de crédito - não, que se saiba, a ponto de ameaçar a saúde dos bancos nacionais. Na carta aos clientes de fevereiro, a Verde Asset, uma das gestoras mais respeitadas do país, apontou "sinais de um incipiente credit crunch (crise de crédito)" no Brasil.
A coluna havia perguntado à diretora-geral da Black Rock no Brasil, Karina Saade, se a gestora identificava risco de crise de crédito, ao que ela respondeu:
— Comparada à de outros países, a situação no Brasil ainda está sob controle. Mas medidas preventivas podem ajudar, até porque caso contrário isso pode ocorrer em futuro não tão distante.
Agora, é torcer para que Karina esteja certa - ao menos na primeira parte.
* Colaborou Camila Silva