Considerada a maior gestora de investimentos do mundo, a BlackRock voltou seu radar para o Rio Grande do Sul. A diretora-geral no Brasil, Karina Saade, que assumiu o cargo em julho de 2021, esteve em Porto Alegre nesta semana em visitas a clientes.
Assim como administra recursos de terceiros, a gigante também é uma provedora de capital a negócios de todos os tamanhos. Karina disse, em entrevista exclusiva à coluna, que é política da empresa não detalhar negócios com clientes, por isso não pode comentar quais empresas visitou, mas afirmou que a BlackRock vem aumentando sua atenção ao Estado.
Formada em economia e relações internacionais pela Universidade de Stanford e com MBA por Harvard, Karina trabalhou três anos no Goldman Sachs, em Nova York. Em 2007, passou a atuar como analista de pesquisa na BlackRock. Assumiu o cargo no lugar de Carlos Takahashi, que passou a ser presidente do conselho do grupo no Brasil. Conforme a executiva, além dos grandes conceitos da BlackRock, os gestores têm bastante liberdade na negociação direta com clientes. Não revela os visitados neste início de março, mas observa, sobre interesse nos gaúchos:
— A gente vem hoje em dia com mais frequência.
Como a companhia, que hoje tem US$ 8,6 trilhões (sim, na ordem de PIBs nacionais e de mercado de mercado de big techs) em recursos administrados, é considerada a responsável por disseminar os conceitos ESG (governança corporativa, social e ambiental) no mercado financeiro, uma das preocupações de Karina é deixar claro que os investimentos não são feitos apenas em empresas "verdes":
— A BlackRock acredita que as empresas com pauta mais sustentável terão melhor desempenho do ponto de vista do investimento no médio e longo prazos. Para o acionista, isso pode ser muito relevante. Então, a gente fala de sustentabilidade e responsabilidade social, mas do ponto de vista da responsabilidade fiduciária, porque isso dá mais capacidade de atrair bons talentos e menos risco jurídico, por exemplo. A BlackRock tende a ser um acionista relevante em várias companhias, até pelo nosso tamanho, e tem um grupo separado que trabalha com ESG, dedicado a isso. A gente não investe só em empresas verdes. Nosso trabalho é exatamente transformar uma empresa que hoje seja considerada marrom em um negócio que trabalhe para um mundo mais verde.
No ano passado, houve uma polêmica sobre uma suposta declaração de um executivo da BlackRock ligado à gestão na América Latina sobre interromper os investimentos no Brasil até que o governo da época não assumisse compromissos mais sólidos com a questão ambiental.
— A gente investe no Brasil independentemente do momento político. O negócio é de médio e longo prazos, são relacionamentos duradouros, então olha muito mais as tendências estruturais do mercado. Brasil é um mercado tem evoluído muito na arquitetura de distribuição (de produtos de investimento), e isso é uma oportunidade de crescimento para as gestoras. Há uma democratização desse mercado, há um crescimento de investidores. Essas tendências de longo prazo no Brasil são favoráveis e isso nos fez dobrar a presença no Brasil no últimos três anos.
No mês passado, a BlackRock reduziu sua participação na Americanas. Karina explicou que a gestora não comenta posições em empresas específicas, mas observou que a casa de investimentos tem estratégias diferentes, tanto passiva (automática) quanto ativa (quando escolhe determinados ativos):
— Em muitos casos, é uma estratégia passiva, que segue um índice de referência. Se a empresa é adicionada ao índice, a gente investe, se sai a gente deixa de investir. Não é necessariamente uma decisão discricionária nossa. Isso se aplica a várias situações.