Na quarta-feira (8), a bolsa subiu 2,22% e o dólar caiu 1,02% em boa parte com a nova expectativa de mercado de que um corte no juro básico ocorra antes do previsto.
Depois da polêmica criada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o Banco Central (BC), a expectativa de redução havia sido empurrada do segundo trimestre para o final do ano, mas uma série de fatores voltou a alterar as projeções.
A principal é a iminência da apresentação do novo marco fiscal, a regra que pretende impedir o avanço do endividamento público. Como há perspectiva de que seja apresentado ainda neste mês - antes, portanto, da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para avaliar a Selic -, analistas veem possibilidade de início do ciclo de baixa ainda no encontro dos dias 21 e 22 deste mês. Isso, claro, se de fato o arcabouço apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, for crível e sólido.
Outro componente das novas expectativas está relacionado à inflação, que vem dando sinais de redução exatamente em decorrência da manutenção do juro alto. Na sexta-feira (10) será anunciado o IPCA de fevereiro, que será essencial para reforçar ou diluir essa expectativa. As projeções não são tão baixas - entre 0,7% e 0,8% -, mas bastante menores do que a registrada em fevereiro de 2022 (1,01%). Caso se confirme, a inflação acumulada em 12 meses baixaria para alto ao redor de 5,5%, dando mais conforto a um eventual corte no juro.
O terceiro ingrediente é mais complexo. A combinação da alta vertiginosa do juro - de 2% para 13,75% em apenas 17 meses - e da aversão ao risco nos bancos provocada com a crise da Americanas provocou um aperto no mercado de crédito que já inquieta especialistas. Na carta aos clientes de fevereiro, a Verde Asset, uma das gestoras mais respeitadas do país, apontou "sinais de um incipiente credit crunch (crise de crédito)" no Brasil.
Ainda ha terça-feira (7), a coluna havia perguntado à diretora-geral da Black Rock no Brasil, Karina Saade, se a gestora identificava risco de crise de crédito, e ela respondeu assim:
— Comparada à de outros países, a situação no Brasil ainda está sob controle. Mas medidas preventivas podem ajudar, até porque caso contrário isso pode ocorrer em futuro não tão distante.