Depois que o responsável por implantar o sistema de meta de inflação no BC, o ex-diretor da instituição Sérgio Werlang considerar as metas de 3,25% em 2023 e 3% em 2024 e 2025 "muito apertadas" - como criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, surgiram novos aliados improváveis ao projeto de aumento desse limite.
E com uma característica em comum: são baluartes do mercado financeiro. Durante um evento do BTG Pactual, representantes de três das maiores gestoras de investimentos do país criticaram a meta atual e defenderam a revisão dos alvo para cima: Rogério Xavier, da SPX Capital, Luis Stulhberger, do Fundo Verde, e André Jakurski, da JGP. Os três definem o destino de cerca de R$ 100 bilhões em investimentos de terceiros.
Enquanto o argumento de Werlang é estrutural - por ter gastos difíceis de cortar, o Brasil precisa de um limite menos apertado - o dos próceres do mercado é mais conjuntural - neste caso, mais fácil de entender: justo depois de uma pandemia e do maior choque de inflação dos últimos 40 anos o Brasil quer ter inflação máxima de 3% ao ano, apenas um ponto percentual acima da empregada nos Estados Unidos - que além de ter estabilidade muito maior, tem mais flexibilidade. É "irrealista", cravou Stulhberger.
Para explicar: se a meta é 3% - não 3,5% ou 4% -, é preciso manter o juro alto por mais tempo para forçar o IPCA a cair até esse nível. No caso do Brasil, que multiplicou o juro básico em quase sete vezes em apenas 17 meses, ainda há o impacto da elevação rápida e brusca, que está cobrando seu preço na forma de atrasos no pagamento de contas (inadimplência) e acúmulo de dívidas nas empresa.
Reduzir a meta não significa necessariamente "aceitar mais inflação", mas constatar que a realidade estrutural e conjuntural do Brasil deve ser considerada nas decisões. No entanto, até porque governos petistas têm mau retrospecto nessa calibragem, é recomendável agir com prudência. O que há em comum entre os economistas ortodoxos e os financistas que apoiam Lula é o diagnóstico de que, sim, é preciso elevar a meta, mas não na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) desta quinta-feira (16). E nem tão cedo.
A sugestão de Werlang é de que primeiro seja apresentado o marco fiscal - que não por acaso o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse pretender antecipar para março -, depois a proposta de reforma tributária, e aí sim, a meta entre em discussão. Se possível, como recomendou o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, dentro de um aprimoramento geral do sistema.