As contínuas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à autonomia do Banco Central (BC) começam a se parecer com uma estratégia empregada pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.
Até onde se sabe, esse não é exatamente um modelo para Lula. E é preciso observar que, se até agora Lula foi deselegante com Roberto Campos Neto ao se referir a ele como "esse cidadão", não chegou à grosseria da qual Trump foi capaz.
É importante frisar que o BC brasileiro não é "independente", apenas "autônomo". Qual a diferença? A que o Comitê de Política Monetária (Copom) fez questão de lembrar no último comunicado: não tem independência para fixar a meta de inflação - definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) -, só autonomia para ajustar os instrumentos que têm para persegui-la.
Quando Trump assumiu o governo nos Estados Unidos, "herdou" - como todos seus antecessores, e Lula pela primeira vez no Brasil - a presidente do Federal Reserve (Federal Reserve, o BC dos EUA) indicada pelo antecessor, Barack Obama. Era Janet Yellen, uma funcionária com décadas de carreira na instituição e uma mulher com 1,6 m de altura, que hoje comanda a economia de seu país.
Durante a campanha, Trump havia acusado Yellen de manter o juro artificialmente baixo para valorizar ações na bolsa de valores e dar melhor imagem ao governo Obama. Ainda em 2015, Yellen havia comandado a primeira alta de 0,25 ponto percentual na taxa de referência desde a crise do subprime. Fez outra de 0,75 ponto em dezembro de 2016, ano em que Trump se elegeu.
Em 2018, o discurso virou: o Fed estava subindo demais o juro. Foi nesse contexto que Trump afirmou que Yellen não era "alta o suficiente" (no sentido físico, mesmo) para ser reconduzida ao cargo - nos EUA, essa é uma tradição, como sinal de estabilidade. E abriu a torneira das críticas à então presidente do Fed: disse que ela não tinha base para o que estava fazendo e que estava "cometendo um erro" ao elevar o juro.
A coluna imagina que Lula não deseje ser comparado a Trump. Agora, que vai visitar o presidente Joe Biden, como relata o colega Rodrigo Lopes, pode se informar melhor sobre esse episódio e protestar que sua biografia jamais terá pontos em comum com o ex-presidente americano. É uma boa oportunidade de repensar a estratégia.