Mais do que a decisão - não há expectativa de mudança no juro básico de 13,75% -, o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de quarta-feira (1º) vai para a história.
Será o primeiro no Brasil sobre a taxa Selic emitido por uma diretoria não escolhida pelo presidente da República de turno, graças à autonomia aprovada em 2021. O que se espera são novas advertências sobre o peso da política fiscal no comportamento da inflação, mesmo que na primeira oportunidade que teve de se dirigir ao novo governo, o presidente do BC tenha optado pela moderação.
A decisão vem precedida de uma - na melhor das hipóteses - deselegância de Luiz Inácio Lula da Silva, que chamou a autonomia do BC de "bobagem" e abalou o mercado financeiro. Na semana da decisão, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nitidamente procurou recompor a relação fazendo elogios ao comando e se comprometendo com a agenda de reformas proposta pelo BC, engavetada no governo anterior.
Para o bem de todos e felicidade geral da nação, é melhor que a relação entre as políticas monetária e fiscal seja harmoniosa, como também já prometeu Haddad. Como observa Caio Megale, economista-chefe da XP - que passou por três secretarias no Ministério da Economia de Paulo Guedes - "os determinantes para a inflação de curto prazo foram positivos". Refere-se à taxa de câmbio, que ficou estável - em janeiro, acumula baixa de 5,2%, considerados os R$ 5,08 do início da tarde desta terça-feira (31) - mesmo com sinais de aumento de gastos. E também à inflação em declínio no atacado.
No entanto, observa que as expectativas de inflação de médio prazo seguem em alta, exatamente pela percepção de risco da política fiscal mais frouxa. Conforme Megale, essa avaliação reflete "uma discussão informal de que o governo pode alterar a meta de inflação". Para este ano, é de 3,25%, e de 3% para o próximo. O debate foi provocado por Lula, quando questionou porque a meta não é de 4,5%, como em seus primeiros governos.
A aposta da maioria dos economistas de mercado é de que o Copom manifeste maior preocupação com as perspectivas de inflação agora do que na última reunião de 2022. Esse cenário pode mudar quando a Fazenda apresentar seu modelo de limite de gastos - o arcabouço fiscal.
Haddad reiterou nesta terça-feira (31) que está em preparação com contribuições de toda a equipe econômica, incluindo Geraldo Alckmin e Simone Tebet. Também disse que a desoneração da gasolina deve mesmo terminar em fevereiro, enquanto o secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, afirmou que não há discussão sobre mudança de metas de inflação. O mercado reage bem, até agora: dólar e juros futuros recuam, bolsa sobe.